A diversidade da cozinha estremenha – Gastronomia de Portugal

A diversidade da cozinha estremenha

«A Estremadura é de todas as nossas províncias, a que manifesta uma complexidade mais acentuada, seja qual for o carácter que tenhamos de considerar», escreveu Silva Teles no Guia de Portugal.

O estuário do Tejo é o seu coração, para ele convergindo todos os caminhos do país em que vivemos.

Lisboa, a capital, essa cidade de muitas e desvairadas gentes, tem sido o pólo aglutinador não apenas de uma província, mas de todo um povo.

É vasta a região da Estremadura, sendo difícil defini-la, como é difícil definir o carácter dos seus habitantes: cristãos, árabes, judeus, aqui se caldearam deixando as suas marcas que, apesar de se terem ido esbatendo, se refletiram, como não podia deixar de ser, na sua gastronomia.

Aqui deparamos com as mais diversas sopas, ou Portugal não fosse um dos países mais ricos em sopas.

As tão características caldeiradas, bem como os mais diversos pratos feitos com peixes do mar, do rio ou com crustáceos.

Os mimos das tão afamadas hortas da região alfacinha; as carnes, mormente a de porco que durante séculos foi a riqueza de gentes de vilas e aldeias; e a doçaria, quer popular, quer conventual.

Neste último caso, não nos podemos esquecer que Lisboa, e a Estremadura em geral, foi a região que antes do terramoto de 1775 e da extinção das ordens religiosas. foi aquela onde aconteceram maior número de conventos.

 

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Dos vinhos às frutas

Os vinhos, de Bucelas, de Colares ou de Carcavelos, para além de região do Oeste, dizem-nos bem das suas riquezas báquicas; os queijos, dentre os quais se destacam o saloio e o de Azeitão, confirmam a autenticidade dos seus pastos.

As laranjas de Setúbal, os morangos saloios, os pêssegos de Alcobaça, os figos de Torres dizem-nos da riqueza ubérrima destas terras abençoadas por Deus.

Autêntico rosário de paladares, oferta da natureza ou fruto do engenho e da imaginação do homem, onde não falta o cunho popular, aristocrático, conventual.

Se a gastronomia de outras regiões contêm em si um cunho bem definido, casos de Entre Douro e Minho ou do Alentejo, a cozinha estremenha, feita das riquezas do mar, dos rios e da terra, não se impõe pela sua personalidade mas sim pela sua diversidade.

Por tudo quanto ficou dito (…), se conclui, como já referimos, que a Estremadura é de todas as províncias portuguesas a mais complexa, quer nas suas paisagens, quer nas suas gentes e, como consequência, na sua gastronomia.

Mello Lapa

In “Cozinha Portuguesa – Estremadura” (texto editado)