Arquitectura Popular

A chaminé na arquitectura tradicional portuguesa

A chaminé na arquitetura tradicional portuguesa

A chaminé constitui um dos elementos da arquitetura tradicional que, para além da sua funcionalidade, adquire consoante a região em que se insere características que respeitam às condições ambientais e ainda elementos decorativos de interesse etnográfico.

Antes de mais, a chaminé constitui uma conduta que serve para extração de fumos resultantes de produtos em combustão.

As suas características no que concerne, nomeadamente, às suas dimensões, orientação tubular e aberturas têm principalmente a ver com a orientação dos ventos predominantes, os regimes de pluviosidade e as espécies de aves existentes na região.

Sucede que, a chaminé não constituiu desde sempre um elemento comum à casa tradicional em todas as regiões do país.

De Norte a Sul de Portugal

A chaminé não era outrora muito usual nas aldeias do Minho e sobretudo em Trás-os-Montes.

Aqui, o fumo das lareiras escapava por entre a cobertura de colmo, as lajes de ardósia ou, mais recentemente, por entre as telhas, ao mesmo tempo que conservava o vigamento de madeira da casa.

À medida que caminhamos mais para sul, a chaminé vai adquirindo uma maior imponência, sobretudo no Alentejo, muito provavelmente em virtude do regime de ventos.

E passa a constituir também um elemento decorativo, adquirindo no Algarve o seu maior esplendor e variedade.

Encontramos, porém, nalgumas localidades do centro do país extraordinárias semelhanças com a chaminé algarvia, muito provavelmente a atestar a sua influência árabe.

Tal como sucede nas aldeias do concelho de Ferreira do Zêzere situadas já na serra de Alvaiázere cujo topónimo – de Al Baiaz que significa O Falcão – apenas vem reforçar tal convicção.

No Torrão, concelho de Alcácer do Sal, a chaminé apresenta uma dimensão que parece esmagar as pequenas casas.

O mesmo sucede em Vila Real, no concelho de Olivença.

No Algarve, ganham em graciosidade, com as suas formas imaginativas e os seus rendilhados, tornando-as um elemento emblemático de toda a região.

Chaminé tipicamente alentejana em Vila Real, outrora denominada por Aldeia da Ribeira, no município de Olivença.

Elementos decorativos nas chaminés

É usual as chaminés ostentarem a data da construção da casa e outros aspetos decorativos, como a lua e o signo de Salomão, raízes de uma religião primitiva e pagã que persiste num sincretismo associado à religiosidade cristã.

Finalmente, a chaminé possui ainda outra funcionalidade: a complementar o cata-vento, o fumo que dela se extrai indica a direcção do vento e constitui uma informação de interesse meteorológica para o agricultor cuja atividade depende sobretudo dos elementos da natureza e dos seus estados de humor.

Imagens de chaminés em diversas localidades

Em Areias, no concelho de Ferreira do Zêzere, as emblemáticas chaminés indicam a sua influência árabe
Chaminé em Avis, no Alto Alentejo
Chaminé em Mourão, no Alentejo
No Torrão, próximo de Alcácer do Sal, as casas parecem atarracadas sob o peso das chaminés.
Chaminé na aldeia avieira da Palhota, nas margens do rio Tejo, próximo da Azambuja.
A chaminé é o local onde frequentemente se inscreve a data de construção da casa. Na foto, a vila alentejana do Crato.
Chaminé na judiaria, em Castelo de Vide.

Carlos Gomes, Jornalista, Licenciado em História