Gastronomia

Cultura do Chícharo renasce em Alvaiázere

Cultura do Chícharo

O chícharo é um legume seco muito apreciado pelas gentes das aldeias serranas das beiras onde os solos são áridos e pobres e a abundância de rochas calcárias torna-os menos férteis.

Sem necessidade de grandes cuidados nem terra com muito amanho, esta leguminosa enfrenta a seca como o beirão resiste à vida árdua de uma lavoura cuja abundância pouco vai além de um punhado de chícharos.

De forma irregular, o seu aspeto assemelha-se mais ao tremoço e ao grão-de-bico, embora exista quem o confunda com o feijão-frade. Porém, difere no paladar que se apresenta suave e aveludado, combinando preferencialmente com o bacalhau assado.

Ele acompanha com quase toda a espécie de alimentos, desde o entrecosto às petingas, a morcela de arroz e os chocos, surgindo ainda em sopa ou transformado em licores.

De início, o chícharo era simplesmente confecionado em broa de milho, untada de azeite e a acompanhar o bacalhau assado com cebola crua.

Rico em proteínas, hidratos de carbono e sais minerais, o chícharo era pelos agricultores mais abastados servido como forragem aos animais.

Mas, em casa dos mais pobres, ele constituía a base da sua dieta alimentar. Associado, portanto, a tempos mais difíceis, a sua cultura foi caindo em desuso à medida que as condições de vida foram melhorando.

Promoção do chícharo em Alvaiázere

A organização regular de um certame com vista à divulgação do chícharo, associado a outras atividades de carácter cultural, passou a atrair a Alvaiázere numerosos visitantes desejosos de provar a iguaria.

Esta iniciativa veio contribuir para inverter a situação que até então se verificava e o chícharo passou a ser de novo cultivado.

E, o seu consumo tornou-se de tal modo apreciado que importantes unidades hoteleiras passaram a incluí-lo nos seus cardápios.

Também a localidade de Santa Catarina da Serra, situada no maciço calcário da Serra d’Aire, seguiu as pisadas de Alvaiázere e passou a realizar uma iniciativa semelhante. E, mais recentemente, o chícharo deu origem à constituição de uma confraria apostada na sua divulgação.

Acredita-se que o chícharo, do latim cicer, tenha a sua origem no Mediterrâneo Oriental.

Entre nós, a sua cultura foi seguramente introduzida pelos árabes, razão pela qual predomina nas regiões mais a sul de Portugal onde a sua influência foi mais marcante.

De resto, a toponímia de Alvaiázere identifica claramente a sua proveniência árabe, aludindo a Al Baiaz que sugere a existência de uma falcoaria.

Mas, no que respeita à divulgação do chícharo, o apelo é bastante eloquente:

– Venha provar o património!

Carlos Gomes, Jornalista, Licenciado em História

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