Os Jogos Populares Transmontanos em Vila Real – 1977
Jogos Populares Transmontanos
Não há memória, em Vila Real, de tão grandioso espetáculo popular como o que decorreu em vários pontos da cidade, em 13-11-77.
Com um garrido cenário de zés-pereiras, tunas, bandas de música, ranchos folclóricos e grupos de teatro, participaram nos jogos, perante vários milhares de espectadores, cerca de 1.150 pessoas (crianças, jovens e adultos de ambos os sexos).
Os jogos foram, então, os seguintes:
– subida ao poste ensebado,
– jogo do cepo,
– jogo das panelas,
– jogo do farelo,
– desgarrada,
– jogo do barril,
– jogo do pau,
– jogo da reca,
– jogo do fito,
– jogo da bilharda,
– jogo do malhão,
– corridas de sacos, de burros e de cântaros
Foram numerosos os prémios distribuídos, contribuindo o comércio local generosamente.
Os prémios
Dentre os prémios, destacam-se os genuinamente populares como cabritos, coelhos, fumeiro, garrafas e garrafões de vinho.
O 1º prémio, uma taça monumental, confecionada pelo artista popular António Félix, de Mondim de Basto, toda em granito, com seis altos relevos alusivos aos jogos, sustentada por forte armação de ferro e com o peso conjunto de 250 Kg., foi ganha pelo Grupo Cultural das Flores (Borbela).
Tudo começou quando o grupo de teatro «O Bando», que desde o início de julho de 1977 se encontrava em Vila Real, teve a ideia de aproveitar os jogos populares para a animação cultural, mormente a teatral.
Movimentaram-se as associações culturais e o primeiro passo foi um plenário de 15 associações, em 2 de setembro, escolhendo-se, então, por votação, o nome definitivo da realização dos jogos: Jogos Populares Transmontanos.
Estes apareciam não como um polo de atração turística, o que significa que o turismo, ainda que necessário à economia regional, passava para segundo plano, mas como autêntica manifestação das vivências populares, chamando assim a atenção dos jogos para a sua ligação ao trabalho, que neles se repercute, e à simplicidade, posto que humanamente fecunda, de meios humanos, devido a carências da ordem económica, o que numa zona civilizacionalmente mais evoluída não aconteceria, pois normalmente se utilizam técnicas mais sofistica das e, daí, menos expressivas.
O povo transmontano está em festa
Até há bem pouco tempo, quando alguém falava de Trás-os-Montes, apenas se referia às montanhas do Marão, à rudeza das suas gentes e à sua hospitalidade.
A partir de agora, quem falar de Trás-os-Montes não deixará de referir, estou certo, a riqueza da sua cultura.
Depois de uma «fase preparatória» que ousamos classificar de histórica, eis aí a 2ª edição dos JOGOS POPULARES TRANSMONTANOS.
No dia 13 de julho, o povo de Trás-os-Montes sairá novamente à rua, desta feita sem ser preciso transportá-lo.
Tal como o fez durante a «fase preparatória» dos Jogos Populares Transmontanos, o mesmo povo que os criou sairá à rua para dizer bem alto aos portugueses e ao mundo: esta é a minha cultura e a dos meus antepassados e por isso aqui estou para a defender!
O povo transmontano pode, enfim, provar que a sua cultura de séculos está viva e que não aceitará nunca qualquer tipo de colonização cultural, por mais bem embalada que venha!
Demonstrámo-lo na nossa terra e convidámos todo o mundo a assistir.
Porque não tínhamos receio de falhar, iniciámos esta caminhada sem nada temer.
Sabíamos e sabemos que «a cultura nasce do povo, ele é a fonte e ao mesmo tempo a única entidade capaz de criar e preservar a cultura, em suma, de fazer a história»
Estava aí a certeza da vitória. Uma vitória simples e fácil como simples e fácil é tudo o que provém do povo.
O povo de Trás-os-Montes está em festa, porque despertou para a sua cultura.
Descobriu (não por via marítima, como é lógico) que ela é fator de desenvolvimento, que através dela pode vencer as barreiras do isolamento, que, inclusive, com ela pode «matar» o Marão.
Fonte: Brochura editada pela Centro Cultural Regional de Vila Real