O Carnaval Duriense |Usos, costumes e tradições
Carnaval duriense
Encurralado nas discotecas, nos clubes e nos trajes amimalhados de fantasia, o velho Carnaval aburguesou-se e perdeu muita da sua alegria.
Senta-se em mesa requintada e já não lhe serve qualquer prato ou qualquer copo. Este novo “fidalgo” está, por ironia, a perder os símbolos do seu brasão genuíno.
Conheci o Carnaval duriense que se paramentava num ritual de trapos, brincava com farinha e não era esquisito de prato e de copo.
Era um pobre muito alegre e festa de todos: dos novos, dos velhos, dos compadres e das comadres.
Escondido na praça pública, este divertimento era escancarado e visível a olho nu.
Em limitados espaços de tempo e de lugar, ainda há restos destes festejos servidos ao natural, sem o constrangimento do espectáculo organizado ou do folclore estilizado.
Seria bom aproveitar estas relíquias e vivê-las com sorriso e sem complicações para o corpo e para a alma, isto é, para o físico e para o espírito. Amen!
Entrudo em Lazarim
Em verdade, o Carnaval pôs em mãos populares jeitos de academia. Cito um exemplo muito honroso e nosso vizinho duriense: Lazarim.
Ali se conserva o fabrico e o uso de máscaras de madeira. Não sei se é caso único no mapa do Carnaval português.
Mas esta obra do povo subiu as escadas dos senhores doutores, pois a ilustre Universidade Portucalense, na sua casa de Lamego, resolveu expor e mostrar como se trabalha esta “cara-de-pau” do diabo à solta. O povo deu a lição.
Para além de aspecto lúdico, há, portanto, que sublinhar ou mesmo fixar outros aspectos como os da culinária, do figurino pronto-a-fingir e até um certo génio de teatralidade.
O Carnaval burguês ainda não se apercebeu que, afinal, é um pobre a pedir esmola. Que não é sadio para o corpo e para o espírito. E isto não é sermão de festa, mas é coisa que se percebe e que se sente.
Faz saudade esse Carnaval duriense de muitas das nossas aldeias onde, no palco público se representava e se expunha, como em revista anual e satírica, os acontecimentos os falhanços e as necessidades locais Havia uma certa irreverência, mas era mandamento e proverbial não levar a mal.
Tudo isto faz falta, pois estou convencido que o Carnaval ainda é um dos casos em que rir é o melhor remédio.
Luís Morais Coutinho, Subsídios históricos e etnográficos do Alto Douro | Imagem