«Cancioneiro da Serra d’Arga» – Quadras mítico-religiosas
«Cancioneiro da Serra d’Arga» – Quadras mítico-religiosas
Eis um rosário de encomendações.
O leitor poderá verificar, através delas, as romarias preferidas pelo povo da região, as principais aspirações e até, muitas vezes, a malícia ou a inocência, a superstição com que se dirigiam aos Santos.
Ó meu rico S. João,
Onde te foram pôr!
No meio da Serra d’Arga
Com sobreiros ao redor.
Há também quadras populares, de sabor religioso, que são autênticos ensinamentos.
«A religião inspirou sempre os artistas» e, de facto, o tema – religião – seria, só por si, o bastante para um outro trabalho deste género.
Quadras populares
Abaixai-vos carabinas
Com as pontas para o chão,
Deixai passar os pastores
Que vão para o S. João.
Amanhã é dia santo,
Dia de me eu assear;
Para ver o meu amor
No adro a passear.
Adeus que me vou embora
Senhora de Guadalupe;
Que nesta terra não tenho
Quem comigo se ocupe.
Amanhã é dia santo,
Dia do Anjo da Guarda;
Ó moças guardai o dia
Que o anjo também vos guarda.
Adeus Senhora da Pena
Ladrilhada mal segura;
Quando passo por ela
Não há pedra que não bula.
Amanhã é dia santo,
É dia de vestir camisa;
Eu não tenho quem ma dê,
Morreu-me a minha Luísa.
Adeus Senhora da Rocha
Inda lá hei-de tornar;
Deixei lá meu lenço branco
Dobrado no seu altar.
Ao deitar e ao levantar
Sempre faço o Sinal da Cruz;
Para renegar o diabo,
Santo Nome de Jesus.
Agora no S. João
É o tomar dos amores;
Estão lindos os campos,
Toda a terra tem flores.
Aquela menina é minha,
Aqueles olhos são meus;
Aquele corpo bem feito
Era o que eu pedia a Deus.
Recolha levada a efeito na Serra d’Arga, nas freguesias de Arga de Cima, Arga de Baixo, Arga de São João e Dem, por Artur Coutinho, transcritas na obra «Cancioneiro da Serra d’Arga».