«Cancioneiro da Serra d’Arga» – Quadras de Queixume
Quadras de Queixume
Nas quadras que se seguem, cada uma delas representa uma queixa.
O povo serve-se da poesia para se queixar da sua desventura. Muitas vezes, é ela que acusa o rapaz, outras, é ele que acusa a rapariga.
A desilusão no amor é bem patente em quase todas.
Eu queria dar um ai
Bem fundo no coração;
Não para lembrar o amor,
Mas a sua ingratidão.
Quadras de Queixume
A água do rio Lima
Foge que desaparece;
Quem dá falas a garotos
Seu castigo merece.
A cantar ganhei dinheiro,
A dançar se me acabou;
Foi dinheiro tão mal ganho,
Água o deu, água o levou.
A água do rio Lima
Foge que desaparece;
Quem eu quero, não me quer,
Quem me quer, não o merece.
Acenaste-me com um lenço
Da sombrinha do loureiro,
Nunca julguei que o teu lenço
Fosse meu alcoviteiro.
A azeitona miudinha
É tirada uma a uma;
Estes rapazes de agora
Não têm vergonha nenhuma.
Adeus que me vou embora,
Adeus que embora me vou;
Tu já estás aborrecido,
Mas eu para já não estou.
Abaixo do Chão dez metros
Ouvi falar a Raiz;
Não te gabes que me deixas,
Que fui eu que te não quis.
Adeus que me vou embora,
Adeus que me embora vou;
Vou embora porque eu quero,
Que a mim ninguém me mandou.
Abre-te, janela, abre,
Que te abres para bem;
Se te abres para penas,
Penas, meu coração tem.
Adeus que me vou embora,
Daqui me vou retirar;
O cantor já fugiu
E só eu não posso cantar.
Recolha levada a efeito na Serra d’Arga, nas freguesias de Arga de Cima, Arga de Baixo, Arga de São João e Dem por Artur Coutinho, transcritas na obra «Cancioneiro da Serra d’Arga».