A varina de Murtosa e o varino peixeiro
O peixeiro ovarino corria todo o país com as suas canastras ao ombro, as pernas nuas, as ceroulas curtas que uma cinta aperta, soltando o seu pregão.
Quando não há peixe fresco leva a sarda salgada, a sardinha que vem de Espinho, seca, e que ele conduz até essas brenhas do interior, às vezes seguindo no chouto dum burrinho com os seus ceirões.
Desde que há comboios de fácil acesso já o peixeiro não tem o mesmo pitoresco, a não ser no arrabalde de Lisboa, em toda essa linha mal servida de viação que vai de Belém a Laião e de Ajuda a Alfragide, etc.
O varino, numa corrida certeira, afogueado, com o seu barrete insubstituível apesar do calor, vai bater às portas dos casalejos, oferecer a sua mercadoria que as mulheres compram depois de grande regatear, e ele, metido o dinheiro no saquitel, larga de novo em célere corrida até outro casal, onde faz novo negócio.
Assim passa a vida o peixeiro ovarino de perfil magrito e perna rija, que galga léguas para ganhar a vida.
O mesmo sucede com a ovarina da Murtosa, forte, ladina e trabalhadeira, mulheres de seios altos e bons olhos, a quem só as suas irmãs da Maia igualam em formosura e donaire.
Estas são as mais lindas mulheres de Portugal, burgo afortunado onde parece que foi dar uma colónia de deusas a fazer geração.
Não podíamos deixar de publicar nestas páginas de costumes portugueses os exemplares mais típicos da nossa terra e que um distinto amador fotográfico, nas suas viagens pelo país, fixou e agora reproduzimos, enriquecendo a galeria dos tipos populares.
Outros de igual interesse se seguirão, marcando assim as diversas classes nas várias regiões do nosso país.


(Clichés do distinto fotógrafo amador Sr. J. A. Pereira de Carvalho).
Fonte: “Ilustração Portuguesa”, 7 de abril de 1913 (texto editado e adaptado)