O tacho da marmelada | Como era antigamente
O tacho da marmelada
No passado, a vida do povo português era muito difícil.
Mesmo os mais abastados tinham de fazer pela vida, que as receitas provinham exclusivamente da lavoura e esta era parca na criação de verbas com que se pudesse ir às compras.
Assim, tudo se procurava fazer em casa, aproveitando quanto a terra, a capoeira e a pocilga podiam dar.
Os figos secavam-se ao sol forte de agosto, assim como as peras e os pêssegos que bem apreciados viriam a ser lá mais para o fim do ano.
Os marmelos vindos de marmeleiros plantados nas beiradas dos terrenos, preferentemente, junto a regato ou regueira fartos de água, constituíam uma riqueza completamente aproveitada para as senhoras fazerem a marmelada e a geleia. Estas haviam de “enfeitar” uma bela fatia de broa ou um pãozinho da padaria local, para as merendas dos senhores e dos meninos.
As tarefas para fazer marmelada
Nesses dias a azáfama na cozinha era marcante:
– umas descascavam e tiravam o caroço,
– outras partiam-nos aos pedaços,
– outras atiçavam o lume
onde o tacho grande de cobre, depois de bem areado, a reluzir como novo – que o verdete era veneno que ninguém queria ver – de boca bem aberta, estava pronto para receber os pedaços de marmelo e o açúcar que a senhora calculava nas proporções adequadas, para além dos segredos que a haviam de tornar mais clarinha e mais macia.
Na hora de provar, a colher de pau passava de boca em boca, não fosse faltar a doçura…
Com tanta fartura, enchiam-se malgas, bacias e pratos ratinhos com que também se obsequiavam famílias amigas.
No fim, o rapar do grande tacho ficava para a miudagem que, saltando em volta, e lambendo os dedos, o deixava a brilhar como se nunca tivesse sido usado.
Fonte: A “Peça do Mês” do Museu de Silgueiros – Centro de Documentação Etnográfica