O Folclore e as Marchas Populares em Portugal
As festividades solsticiais no Verão
Desde sempre, o Homem procurou celebrar através do rito a acção criadora dos deuses, constituindo um ritual mágico destinado a perpetuar o gesto primordial da sua criação.
Desse modo, ao celebrar a chegada do Verão por altura do solstício, o Homem assegurava que o ciclo da Natureza jamais seria interrompido, dando continuidade à vida num perpétuo ciclo de constante renascimento.
E, à semelhança do que sucedia com a generalidade das celebrações pagãs, esta constitui a essência das festividades solsticiais que entretanto foram cristianizadas e, nesse contexto, dedicadas a São João Baptista.
Conta uma velha lenda cristã que, por comum acordo das primas Maria e Isabel, esta terá acendido uma enorme fogueira sobre um monte para avisar Maria do nascimento de São João Baptista e, desse modo, obter a sua ajuda por ocasião do parto.
E, assim, pode a tradicional fogueira, que os povos pagãos da Europa acendiam nomeadamente por ocasião do solstício de Verão, ser assimilada pela nova religião então emergente.
As fogueiras e o Lume Novo
Na realidade, era também habitual acender fogueiras por altura da Páscoa e do Natal, tendo dado origem ao madeiro que se queima no largo da aldeia e ao círio pascal, bem assim às numerosas representações feitas nomeadamente na doçaria tradicional.
É ainda nas fogueiras de São João que têm origem as exuberantes exibições de fogo-de-artifício e os balões iluminados com que se enfeitam as ruas dos bairros e se penduram nos arcos festivos que são levados pelos marchantes que desfilam na noite de Santo António.
Era ainda usual, na noite de São João, atarem-se aos balões, antes de os elevarem nos céus, pequenos papéis contendo desejos e pedidos, à semelhança das quadras feitas a Santo António que se colocam sobre os vasos de manjericos, tradição que remete para rituais ancestrais ligados à fertilidade e à vida.
Estes festejos celebram-se também em diversos países europeus e, por influência da cultura portuguesa, no nordeste brasileiro onde tem lugar o casamento fictício no baile da quadrilha.
Entre nós, este costume veio em 1958 a dar origem aos chamados “casamentos de Santo António”.

De um modo geral, pelo simbolismo que as caracterizam e a coreografia a que estão associadas, as festas solsticiais estão ligadas às chamadas “danças de roda” representadas desde a mais remota antiguidade.
Perfilando-se geralmente em torno da fogueira ou do mastro de São João, a mocidade dá as mãos, canta e dança em seu redor, num ritual que denuncia o seu misticismo primordial.
Esta constitui, aliás, uma das tradições mais arreigadas entre os povos germânicos e, sobretudo, na Suécia onde chega a ser considerada a sua maior festa nacional.
O hábito de inicialmente nele se suspenderem coroas ou ramos de flores veio a dar origem a outros divertimentos como o pau ensebado no cimo do qual é colocado uma folha de bacalhau para premiar aquele que o consiga alcançar.