Barro negro de Bisalhães – Vila Real | Artesanato
Barro negro de Bisalhães
Bisalhães, aldeia vizinha de Vila Real, foi um dos mais importantes centros oleiros do norte do país. Os alguidares, potes e panelas que ali se faziam eram levados pelas mulheres, à cabeça, em grandes cestos e vendidos distrito fora. Ainda hoje os mais velhos contam como era duro calcorrear caminhos sinuosos, Marão acima, distâncias enormes percorridas pelos oleiros descalços, com os panelos às costas.
É a cozedura na soenga, forno escavado no chão, que dá a cor negra ao barro. Depois de estar em brasa, a loiça é abafada com musgo e terra, adquirindo o seu aspecto final. É o homem que trabalha na roda de oleiro. Usa pedras do rio para fazer o polimento das peças, o brunido. É também com pedras que as mulheres voltam a polir e a decorar.
No quadro da economia rural de tempos não muito distantes era costume trocar as peças por géneros alimentícios, servindo aquelas de medida. Por exemplo, um alguidar trocado por duas vezes a sua capacidade em batatas.
As mudanças inevitáveis
O plástico substituiu o barro no uso quotidiano. Agora já não se faz o café da manhã na chocolateira, nem se guarda o mel no pote com um bordo levantado que se enchia de água para desviar as formigas. A talha vinagreira já é dispensável e não se levam para o trabalho cantis, morigas ou bilhas com água ou vinho.
A via rápida (IP4) afastou os carros da sinuosa estrada do Marão (EN15) onde os oleiros mostravam e vendiam o seu trabalho em barracas. Havia, até há pouco [décadas de 70/80 do séc.XX], 40 oleiros em Bisalhães. [Agora restam dois ou três] … à entrada de Vila Real onde mostram as bilhas do segredo e as da rosca.
A Feira dos Pucarinhos, realizada em Vila Real por altura do São Pedro (29 de Junho), continua a ser o local de encontro dos [pouquíssimos] fabricantes de louça negra e, embora sem as dimensões doutros tempos, continua a merecer visita.
Olaria de outras terras
Na Beira também tem fama a loiça preta, com a reputação de dar bom gosto à água e à comida por ser muito porosa e enegrecida pelo fumo, retendo substâncias orgânicas que o fogo carbonizou. Mantêm-se em funcionamento pequenas olarias em Olho Marinho, que fabricam sobretudo a caçoila para a chanfana, prato tradicional da região.
Molelos (Tondela) foi das comunidades com mais oleiros no centro do país. Mantendo os acabamentos tradicionais (o brunir das peças com seixos, dando-lhes brilho acetinado)… os mais jovens inovaram as formas e a decoração das peças.
Fonte: GUIA Expresso “O melhor de Portugal” – 13 – Tradições, Arte Popular, Artesanato
Sobre os trabalhos do Oleiro de Bisalhães
Na próxima página fica a conhecer as várias fases do trabalho do oleiro com o barro negro de Bisalhães.