Festas e RomariasUsos, costumes e tradições

A Capeia Arraiana – Sabugal (Guarda)

A Capeia Arraiana

A Capeia Arraiana é uma manifestação tauromáquica caracterizada pela lide coletiva do touro bravo com o recurso exclusivo ao forcão.

O forcão é uma estrutura triangular, robusta e pesada, de troncos não afiados de madeira de carvalho de grandes dimensões, atados uns aos outros por cordas, cuja construção obedece a um conjunto de conhecimentos e técnicas transmitidas de geração em geração.

A sua execução é exclusivamente masculina.

São também os homens (entre vinte e trinta) que participam na Capeia, um duelo de coragem e habilidade entre homens e touro. Esse grupo de homens distribui-se estrategicamente em ambos os lados do forcão.

Com o madeiro em riste, vão-no rodando, subindo e descendo, tentando contrariar as investidas do touro, impedindo-o de contornar o forcão e de se aproximar deles.

O manuseamento do forcão exige destreza, coordenação coletiva e coragem, remetendo esta prática para ancestrais rituais iniciáticos masculinos e para a necessidade de testar os futuros bois a conservar na manada pela sua virilidade.

Cada forcão é conservado e reutilizado em anos sucessivos (geralmente dois ou três) pela respetiva comunidade, que procede à sua substituição apenas quando deixa de servir para a função.

A preparação de cada novo forcão requer a escolha e corte da madeira, atividades realizadas geralmente entre fevereiro e março.

Momentos da Capeia

Antecedem a Capeia propriamente dita outros momentos desta prática:

– o Encerro (recolha e encaminhamento dos touros para os currais junto à praça onde ficam encerrados.  Este percurso é efetuado por cavaleiros com auxílio de cabrestos e vacas mansas, e conta com o apoio entusiástico e participação ativa da população, que se vai colocando, resguardada, ao longo do trajeto),

– o Boi da Prova (“correr” um dos touros para antever a qualidade dos animais e a dificuldade da prova)

– e o Pedir a Praça (ritual executado com todos os Mordomos reunidos na praça, que envolve o pedido de autorização para dar início à Capeia).

Em algumas localidades, no final da Capeia, tem lugar o Desencerro (regresso dos touros e cabrestos ao local de onde partiram no Encerro, não tendo, contudo, o mesmo prestígio deste).

 

Onde se realiza

No largo principal (ou praça) de cada uma das localidades envolvidas (onze freguesias do município do Sabugaldistrito da Guarda, antiga província da Beira Alta).

Dá-se o nome de côrro a estes largos, vedados temporariamente para o efeito em forma de círculo delimitado por atrelados de tratores, paredes de casas e currais anexos e estruturas próprias para o efeito.

Quem participa

Participam na Capeia propriamente dita homens das localidades, sendo que toda a comunidade se envolve na organização e logística da festa.

A assistência é composta não apenas por residentes e população emigrante, mas também vizinhos de outros municípios, com destaque para espanhóis da zona raiana, onde não existe a tradição de corrida de touro com forcão.

Quando se realiza

Anualmente, durante o mês de agosto.

Fonte: “Saber ser – saber fazer – O património cultural imaterial da região centro”