Artesanato

O artesanato do Parque Natural do Alvão

O artesanato do Parque Natural do Alvão

Ao contrário do que se verifica nas sociedades modernas, cujas técnicas podem modificar o ritmo de vida, tornando-o independente das contingências do meio físico, nas sociedades simples, as técnicas rudimentares traduzem simultaneamente uma influência e uma adaptação ao meio, como é o caso destas comunidades rurais de montanha, onde existe um sistema de agricultura sedentária interligado com formas de vida pastoril.

Do meio era extraído quase tudo o que necessitavam para a subsistência, desde a casa ao vestuário, passando pelo alimento e utensílios, e assim foram surgindo das mãos de habilidosos, peças de vestuário e instrumentos gratuitos, inseridos no ciclo das trocas de favores.

Hoje verifica-se uma riqueza na concepção e na variedade dos objectos artesanais:

– chapéus em colmo,

croças e perneiras em junco,

– cestos feitos com lascas de madeira,

– socos,

– carros de bois,

– peças de mobiliário e alfaias agrícolas em madeira,

– objectos de ferro,

– peças em madeira para o tratamento e tecelagem do linho,

– meias de lã,

– capas feitas em lã escura (capuchas),

– colchas e toalhas em linho,

– mantas e passadeiras de farrapos

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Só os indivíduos de meia-idade e os idosos os sabem fazer, pois que os mais novos, suscitados pela cativante oferta dos objectos de mercado, não sentem justificação na aprendizagem.

Assim o objecto, outrora ditado pela necessidade imperiosa do agregado familiar e/ou da colectividade, é ainda executado lentamente e aformoseado ao sabor da mente e do jeito, quando solicitado.

Apenas a tecelagem das capuchas e das colchas e toalhas em linho, com desenhos ripados em algodão, satisfaz a procura de um ou outro emigrante com maior possibilidade de compra e assim está numa fase incipiente de viragem.

Sugestão de leitura: O fumeiro do Parque Natural do Alvão

A necessária mudança…

O artesanato terá de passar a nascer por uma outra causa – a de satisfação da procura externa – ou seja, a venda directa ao visitante e o abastecimento dos centros de artesanato.

A obtenção de lucros irá, como é óbvio, funcionar de complemento às tarefas agro-pastoris ou como recurso exclusivo para os jovens que se dedicarem a tempo inteiro.

Todo este processo de conversão de uma modalidade a outra passa por uma morosa fase de apoio e estímulo às manufacturas pontuais ainda existentes por simples gosto de habilidosos e entusiastas.

Passar da manufactura esporádica de um objecto para o fabrico repetitivo, sem o desvirtuar da concepção e forma, requer uma mudança de espírito dos mais entrados na idade e um convencer fundamentado da juventude, por natureza mais receptiva a mudanças.

Maria Luísa Carapucinha S. Moura

Fonte: Desdobrável do Parque Natural do Alvão (texto editado e adaptado)