As “Marinhas de Arroz” de Estarreja
Os arrozais do Baixo Vouga Lagunar, situados entre o Esteiro de Salreu e o rio Antuã, são chamados de “marinhas de arroz” devido à rede de valas, sapais, juncais e caniçais que interligam os férteis terrenos agrícolas.
Em 1922, época áurea do cultivo do arroz no concelho de Estarreja, a “Hidro-Eléctrica de Estarreja” – Fábrica de Descasque de Arroz, fundada por Carlos Marques Rodrigues, inicia a sua laboração, tendo sido encerrada em 1987.
Mas o declínio da orizicultura resultou, ainda, de outros fatores, como o surgimento de explorações mais rentáveis (nas margens dos rios Sado, Tejo e Mondego), emigração, industrialização do concelho, invasão dos canais com água salgada e pragas de lagostins.
O retorno recente à atividade foi facilitado tanto pela edificação de diques na ria de Aveiro, permitindo selar a entrada de água salgada na rede de canais, bem como por iniciativas de sementeira da BioRia (projecto ambiental da Câmara de Estarreja), incentivando os agricultores a preservar este património imaterial.
Fases de cultivo nos arrozais
O processo de plantio inicia-se na primavera (abril/maio), com a limpeza da água e das ervas, usando tratores e grandes ancinhos.
Para acelerar a germinação, antes da sementeira, praticava-se a “mergulha” das sementes dentro de sacos de serapilheira, ou enterrando os sacos com sementes debaixo das manjedouras, cobertos de palha e estrume, para que as sementes intumescessem e ganhassem peso.
A fase seguinte, a monda, serve para desafogar as plantas, expurgando os arrozais das ervas daninhas.
A colheita habitualmente ocorre em setembro, seguindo-se o descasque e a venda/consumo.
As juntas de freguesia de Salreu e Canelas incentivam os restaurantes locais a usarem este arroz nos seus pratos regionais e a farinha de arroz na confeção de doçaria.
Para Sérgio Silva, na sua obra Salreu, uma aldeia em papel de arroz, a cultura do arroz faz mais falta ao coração, do que à barriga, o que aponta para a importância identitária da preservação e salvaguarda dos patrimónios alimentares.
No concelho de Estarreja, especialmente nas freguesias de Salreu e Canelas.
Conforme a obra Terras de Antuã – Histórias e Memórias do concelho de Estarreja, a produção está documentada desde o século XIX, garantindo assim os processos de transmissão dos Patrimónios Alimentares, e o envolvimento ativo da BioRia
Fonte: (1) “Saber ser – saber fazer – O património cultural imaterial da região centro”