Superstições e crendices

Crenças Sobrenaturais Saloias | Superstições e Crendices

Superstições

Voltando aos saloios, no tratamento de certas doenças, como a erisipela, empregava-se para pincelar a parte do corpo afectada uma pena de galinha preta.

Quando o lume estava a fagulhar, era bom deitar-lhe algumas pedras de sal e de seguida voltar-lhe as costas.

Não era bom tocar caxa velha, pois acontecia alguma desgraça.

Era de mau agoiro ouvir piar os mochos, pois era sinal de morte no lugar.

Não era bom partir vidros.

Para que as bruxas não entrassem em casa, era conveniente colocar atrás da porta um banco de pernas para o ar.

Todo esse ritualismo crencista, supersticioso e pagão ou paissan, “camponês”, mesmo assim não deixa de ter a sua razão de ser, o que me leva a deduzir, mais uma vez, de resquícios degenerados muitíssimo e irredutivelmente afastados de uma original, verdadeira e completa Tradição Iniciática talvez moçarábica, mista de Cristianismo oriental com Arianismo ocidental, tudo com halo arábico, e a qual seria ministrada no esconso reservado das Caneças não raro anexas às mourarias, detentoras do supervisionamento.

A cultura moçarábica

Com a expulsão posterior dos mouros para fora dos muros das cidades onde tinham os seus colégios, a cultura moçarábica seguiu-os e aos poucos foram extinguindo-se como etnias distintas, com eles a cultura e religião próprias só ficando, como testemunho fragmentado ainda assim mantendo-se por herança genética alimentada por via oral de velhos a novos, as crenças sobrenaturais do Termo, resquício psíquico dum período áureo irrevogavelmente morto.

Ao Homem cabe nascer, crescer, decrescer, morrer… assim também com as civilizações, logo, igualmente aos seus usos e costumes, sejam sagrados, sejam profanos, sejam ambas as coisas inter-relacionadas.

Para terminar esta ligeira abordagem às crenças sobrenaturais do saloio estremenho, desfecho com um breve glossário de termos saloios, extraído, com a devida vénia, do livro de Maria Rosa Lila Dias Costa (ob. cit.), dividido em duas partes: a primeira, sobre astros e fenómenos atmosféricos; a segunda, sobre superstições e crenças (ver abaixo).

Astros e fenómenos atmosféricos

De acoitar a corisco

Acoitar – Abrigar do tempo.

Alando d´auga – Grande quantidade de chuva.

Amolinhar – Chuviscar ou chover com pouca intensidade.

Andar numa ruvadoura – Diz-se dos dias ventosos e frios.

Arco-Novo – Arco-íris; meteoro luminoso, em forma de arco, que apresenta as sete cores do espectro solar.

Arco-da-Velha – O mesmo que arco-íris.

Armar uma trevoada – Tornar-se o céu escuro para trovejar.

Auga à granela – O mesmo que alando d´auga.

Aventar – Fazer muito vento.

Barbas-de-gato – Diz-se do aspecto do céu quando o sol aparece por detrás de nuvens leves.

Biquêras – Pingos de água que caem dos telhados.

Biquêra-morta – Pingos de água barrenta caindo das telhas.

Borriçar – O mesmo que amolinhar.

Borriços – Chuva leve e pouca intensa.

Cair um banquete – Chover abundantemente.

Carmêlo branco – Gelo que se forma à superfície da água deixada ao relento durante o Inverno.

Carmêlo negro – Gelo de cor terrosa, que se forma sobre as novedades e as encarquilha e queima.

Casacada d´auga – Grande bátega de chuva grossa.

Chover borriços – O mesmo que amolinhar.

Chover molinha – Chover com pouca abundância.

Choverão – O mesmo que casacada d´auga.

Corisco – Designação vulgar de algumas pedras polidas da Idade Neolítica; o mesmo que pedra-de-raio.

De derremunho a geada

Derremunho – Encontro de ventos opostos em rajada, movendo-se circularmente.

Dia de amores – Dia de sol.

Dia cerrado – Dia enevoado.

Dia de cravos – O mesmo que dia de amores.

Dia desnorteado – Dia de chuva e vento.

Escurecer a noite – Anoitecer.

Estar de boiça – O mesmo que amolinhar.

Estar brabo – Dia de chuva e vento.

Estar d´estoirões – Chover abundantemente e trovejar.

Estar de nèvoêro – Diz-se do dia cerrado.

Estar à panga – Estar à chuva sem se recolher.

Estrada-de-Santiago – Nebulosa ou mancha esbranquiçada que se vê no céu, em noites claras; Via Láctea.

Estrela-boiante – Estrela de alva, ao nascer da qual os vaqueiros se levantam para ir tratar do gado.

Estrela-da-madrugada – O mesmo que estrela boiante.

Estrela-da-manhã – Vénus, o mesmo que estrela boiante.

Fazer sol – Diz-se quando já despontou o sol.

Forrar o escuro – Amanhecer.

Geada – Orvalho congelado que forma camada branca sobre os telhados, solos, plantas, etc.