A cabra e o cabrito de ouro | Lenda de Belmonte
A cabra e o cabrito de ouro
Conta-se que em tempos existia um pastor em terras de Belmonte que sonhou três vezes seguidas com a seguinte frase: “Vai a Belém, que lá encontrarás o teu bem”.
O pastor, cansado de ouvir essa voz que insistentemente se repetia, pôs-se a caminho.
Em Belém procurou, procurou, mas nada encontrou que lhe respondesse a tão estranho chamamento.
Desanimado e quase a desistir de procurar, encontrou um outro pastor que lhe perguntou a razão de tão profunda tristeza.
O pastor de Belmonte resolveu contar o sonho. E o outro falou:
– Então, vós ainda acreditais em sonhos? Eu também costumo sonhar que numa terra chamada Belmonte há uma laje onde todos os dias se deita uma cabra amarela e que debaixo dela existe um tesouro, mas eu não acredito em sonhos!
O pastor, ao ouvir isto, deu um salto e pôs-se a caminho de casa. Ele sabia bem qual era a laje e a cabra a que o outro pastor se referia.
Quando chegou à sua terra, logo se dirigiu à laje. Levantou-a e escavou até encontrar o tesouro: uma cabra e um cabrito de ouro.
Decidiu dividir o tesouro com o Rei, mas os conselheiros, não o querendo deixar entrar, responderam-lhe:
– Deixa-nos o presente, que nós mesmos o entregaremos ao Rei.
O pastor, nada convencido, não arredou pé enquanto o não levaram à presença do Rei. E este, perante a insistência do pastor, acabou por recebê-lo.
Quando o pastor entrou na sala real, perguntou:
– Onde está sua Majestade, o Rei?
– Aqui, o que queres?-perguntou o soberano.
– Senhor, trouxe-vos um presente: uma cabra e um cabrito. Qual quereis?
– Quero o cabrito, sempre será mais tenro que a cabra.
O pastor entregou-lhe o cabrito, mas ao ver que era de ouro, exclamou:
– Agradeço o presente, mas tenho pena que o cabrito fique órfão!
A isto o pastor retorquiu:
– Senhor, não tenhais dó, que eu também vos deixo a mãe do cabrito!
Por tão grande gesto de generosidade e lealdade, o Rei decidiu recompensar o pastor. Mandou-o ir à sua cavalariça escolher o melhor cavalo. E disse-lhe que todas as terras que percorresse em Belmonte, desde o nascer ao pôr-do-sol, seriam para sempre suas.
Lenda de Belmonte | Imagem: “Pastor da Serra da estrela” (pormenor) – Ilustração Portugueza, nº 256, 16 de Janeiro de 1911