Volta do mercado saloio – Roque Gameiro

Volta do mercado saloio

“O tema dos saloios que voltam da feira foi mais do que uma vez tratado pelo pintor. Num desenho que executou para Portugal de algum dia ele reproduziu um idêntico contexto.

Esta aguarela de belíssimos efeitos cromáticos, intitulada Volta do mercado saloio integra-nos numa realidade que se verificava, ainda nas primeiras décadas do século XX.

O quadro representa um friso de mulheres e de homens que regressam da feira, revelando, alguns, marcas do cansaço proveniente de uma dura jornada.

É flagrante, porém, o dinamismo que se desprende destas figuras, de sugestivos traços fisionómicos.

Está bem implícita a sugestão de movimento dos animais e de algumas das figuras, do esforço despendido para obrigar os animais a prosseguirem o caminho.

O homem que se desloca à frente do grupo torna-se, pelos pormenores do seu aspeto físico, um pouco caricatural, destoando no meio da simplicidade dos camponeses.

O pintor revelou detalhadamente pormenores de vestuário, permitindo uma perfeita caracterização de pessoas ligadas a uma atividade própria da região saloia, na época.

A paisagem, marcada pela tonalidade quente do amarelo sombreado por expressivas manchas acastanhadas, aparenta reproduzir campos de trigo no início do verão.

 

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Volta do mercado saloio (1918) – Roque Gameiro

 

O sol quente da tarde incide sobre a paisagem e as figuras, inundando tudo de uma luz intensa; a repetida nota de vermelho acentua ainda mais a sensação sinestésica do calor que envolve tudo, e que atormenta as pessoas e, mesmo, os próprios animais.

A natureza torna-se, aqui, uma espécie de cenário que serve de pano de fundo às figuras que seguem o seu caminho.

Na estrutura do quadro observa-se uma variedade de planos em que se distingue a obliquidade do aqueduto em contraste com o arredondado dos montes, contribuindo esta diversidade para acentuar a verticalidade das figuras.

Maria Lucília Abreu” (1)

Alfredo Roque Gameiro

Pintor. Nasceu em Minde, Porto de Mós, a 4 de abril de 1864, e faleceu em Lisboa, a 5 de agosto de 1935.

Em 1887, em colaboração com Rafael Bordalo Pinheiro, Columbano e Manuel de Macedo, lançou no mercado os Tipos Populares Portugueses.

De 1893 a 1896 frequentou, em Lípsia, a Escola de Artes e Ofícios, a fim de estudar os modernos processos de litografia.

Dotado de extraordinária acuidade visual, sensível aos segredos das coisas e dos seres e servido por uma técnica poderosamente expressiva, é considerado o primeiro aguarelista português, a par dos melhores aguarelistas europeus do seu tempo.

As suas melhores aguarelas encontram-se no álbum Lisboa Velha (100 aguarelas), com texto do poeta Afonso Lopes Vieira.

Com Retrato de Sua Mãe obteve a medalha de ouro na Exposição de Paris de 1900.

Distinguiu-se ainda como ilustrador.

Está representado no Museu Nacional de Arte Contemporânea.

Cultivaram igualmente a pintura com assinalável êxito seus filhos Raquel, Manuel, Helena e Mámia. (2)

 

(1) in Roque Gameiro – O Homem e a Obra, ACD Editores, 2005

(2) in “O Grande Livro dos Portugueses