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Vindimas: vindimar até ao lavar dos cestos!…

Vindimar até ao lavar dos cestos

Chegou o Setembro e com ele as primeiras águas de Outono. O ano agrícola propriamente dito chegou ao fim.

É tempo de vindimas e também de desfolhadas na região de Entre-o-Douro-e-Minho. Aqui o milho é de regadio e por esse motivo se realizam mais tarde em relação às terras em que a sua cultura é de sequeiro.

Alegram-se os caminhos das aldeias com a chieira dos carros de bois. Inundam-se os campos de gente que vai à vindima. Estalejam os últimos foguetes nas Feiras Novas, em Ponte de Lima.

O luar de Setembro reúne rapazes e raparigas nas eiras para desfolhar as maçarocas do milho do folhaço que a envolve. O milho-rei concede que se distribuam abraços, ocasião bem aproveitada pelos namorados.

Canta-se ao desafio e afinam-se as gargantas com uma bela malga de verdasco. Por vezes aparece um encamisado que, a coberto de uma manta que lhe esconde a verdadeira identidade, solta pilhérias que intrigam os presentes.

Terminadas as vindimas e transportadas as uvas para o lagar, é chegada a altura de as esmagar e prensar, que o tempo da pisa já lá vai. E, concluídas as colheitas, realizam-se as adiafas.

Canta-se ao patrão que nos oferece suculento rancho bem ao gosto dos trabalhadores. O tocador puxa uns acordes na concertina e a mocidade dança o vira e a tirana, a chula e o malhão.

Sugestão: Sobre as vindimas e o vinho no início do séc. XX

Festas e Romarias

Em Lamego ainda se festeja em honra de Nossa Senhora dos Remédios .

Nas Feiras Novas o folguedo é até às tantas, com cantadores ao desafio e o vinho a jorrar nas malgas e a refrescar as gargantas.

No segundo domingo de Setembro, os pescadores de Vila Praia de Âncora saem em procissão para honrar a Senhora da Bonança, e suplicar-lhe a construção do porto de pesca que os governantes não se cansam de lhes prometer.

Era ainda em Setembro que outrora os romanos homenageavam Júpiter no Capitólio e lhe imploravam um inverno pouco rigoroso e fértil, pois constitui a estação que representa a morte dos vegetais e da natureza, a fase que une a vida à morte num ciclo de perpétuo renascimento e cujo começo bem pode ser assinalado com o equinócio do Outono.

Sugestão: É hora das vindimas em terras ribatejanas (1911)

Depois das vindimas tempo não pára!

Em breve se celebrarão os rituais que se relacionam com o culto dos mortos e com o solstício do inverno, o cantar dos reis e o Entrudo e, por fim, a Páscoa e a serração da velha. Os lobos uivam nas serranias enquanto as bruxas se reúnem sob as velhas pontes ou saem aos caminhos para amedrontar os notívagos que passam.

Mas, enquanto não chega o “pai velho“, é altura de abrir as covas nos pomares para plantar novas árvores e ceifar o arroz, estrumar as terras e semear o linho, o centeio e a cevada. É ainda tempo de aproveitar bem as festas e romarias que ainda decorrem no mês de Setembro. E convém lembrar, “até ao lavar dos cestos é vindima”!

Sugestão: É tempo de vindimas em Joanicas, Cartaxo (1916)

 

Vindimas: vindimar até ao lavar dos cestos!...
Uma vindima na Região Demarcada do Douro

 

 

Vindimas: vindimar até ao lavar dos cestos!...
Fotos do Rancho Folclórico Os Barqueiros do Douro – Mesão Frio 

Eram os barqueiros do rio Douro quem antigamente transportava por via fluvial o tão afamado vinho generoso do Douro, vulgo “Vinho do Porto“.

Carlos Gomes, Jornalista, Licenciado em História