Trajes

Vestuário da população de Fajã da Ovelha | Madeira

Vestuário da população de Fajã da Ovelha

Os trajos, que há poucos anos deixaram de ser usados, aparecem ainda hoje por ocasião das grandes romarias, bailes, etc.

É muito interessante tomar parte numa destas romarias.

O trajo da viloa

Assim, os célebres descantes à viola, nos quais às vezes tomam parte quarenta ou mais indivíduos, entrando, é claro, a formosa viloa de

– carapuça na cabeça,

– saia curta de lã encarnada com listas de cores diversas,

– capa a meia cintura dum azul-escuro, debruada de larga fita azul-clara, posta por sobre o ombro esquerdo e passando por baixo do braço direito,

indo encontrar-se as duas extremidades um pouco abaixo dos seios, deixando ver uma branca camisa de linho abotoada por grandes botões de ouro, com numerosas pregas caindo sobre os bordos de um colete de cores várias, sobre o qual caem também as caprichosas dobras grossos grilhões de ouro, restando ainda para completar este trajo deveras gracioso e original as não menos originais botas brancas de canhão, debruadas com uma lista encarnada, calças sobre uma branca meia bordada.

O trajo de vilão

O trajo de vilão já é mais variável; contudo, é também original.

E é esta variedade de trajos que melhor se aprecia nas romarias de que acabámos de falar, aonde se juntam milhares de pessoas de todos os pontos da ilha.

Poucas são as pessoas que usam botas nos dias de trabalho.

Ao domingo, porém, quando vão para a missa, muitas vão calçadas.

É interessante o facto muito frequente de se encontrar muitas dessas pessoas com um pé calçado e outro descalço, trazendo nas mãos a outra bota.

Algumas vezes até trazem as duas botas nas mãos! Este facto faz parte das suas economias.

As botas têm uma forma original: a sola é plana, em salto; os canos podem-se desdobrar, transformando-se assim em botas de água.

Têm quase sempre na extremidade do cano uma lista vermelha, que não aparece quando o cano está desdobrado.

Rara é a pessoa que usa meias.

Vestuário de trabalho

O vestuário do homem, no dia de trabalho, reduz-se ao seguinte: um barrete de lã que deixa pender uma borla também de lã, e que em geral é tecido em casa.

Uma camisa muito grossa, de linho, umas ceroulas do mesmo tecido e um par de calças, tudo isto tecido em geral pela mulher em sua casa ou em casa de um vizinho que possua tear.

Aos domingos, o vestuário é aumentado com um par de botas e um jaleco (jalecre, como lhe chamam) semelhante a um colete, mas que anda sempre desabotoado e muitas vezes ao ombro.

Quando vão para a missa envergam então os seus casacos tecidos também em casa.

Trajos tradicionais da Madeira no início do séc. XX

Fajã da Ovelha

No sítio da Maloeira, da freguesia de Fajã da Ovelha, usa-se ao dia de trabalho apenas ceroulas e camisa, as ceroulas chegam até ao joelho apenas e são tecidas de linho também.

É o único lugar da Madeira onde se usa tal vestuário.

Os terrenos da Maloeira não são pantanosos e não devemos por isso atribuir a tal o facto de os trabalhadores de ali usarem ceroulas curtas.

Todo o vestuário, de que acabei de falar, é confecionado em casa e dura muitíssimo tempo.

Na Fajã da Ovelha existe apenas uma loja de fazendas, que está quase sempre fechada por falta de compradores.

Os homens nada compram e se alguma coisa se vende é só para o vestuário das mulheres.

Mas no geral as saias destas são tecidas em casa, em diferentes cores.

Os lenços são comprados nas lojas.

Poucos adornos possuem, apenas arrecadas e um ou dois anéis de chumbo ou de prata.

Tatuagens não existem.

Poucas pessoas possuem relógios de algibeira; a água das regas é em geral marcada pelos relógios de areia (ampulhetas); isto quando querem ter uma maior precisão, porque de contrário regulam-se pelo sol, pelas «sete estrelas», pela Lua, pelo cantar dos galos, etc..

Extrato de um trabalho, intitulado: “Caracteres Étnicos da População de Fajã da Ovelha, apresentado pelo aluno de Antropologia João Augusto Correia de Gouveia, 18 de Maio de 1914″

Informações e foto retiradas de “ETNOGRAFIA PORTUGUESA” – Livro III – José Leite de Vasconcelos