Uma vezeira no Barroso – Trás-os-Montes
A vezeira
Ora um dia quente de Julho ou princípios de Agosto desse mesmo ano, a vezeira era de minha tia e ela pediu a meu pai o favor de me deixar ir mais a Carolina com a rês.
Deitei às costas a saca do farnel, dei uma corrida ao sino e logo das portas dos currais começaram a surgir rebanhos que se iam engrossando, rua abaixo.
Ao deixar a aldeia, a vezeira lembrava o levantar dum acampamento dum exército muçulmano. Ao balir dos cordeiros e cabritos juntavam-se o latir dos cães e o vozear das mulheres que iam ajudar a encaminhar a rês até monte largo.
E por cima de tudo, a inundar campos e árvores, uma densa nuvem de poeira, levantada por milhares e milhares de patas, arrastadas pelo chão ressequido.
Para além dos terrenos de cultivo, no extenso baldio, o gado espraiava-se e serenava. As cabras alongavam-se pelos montes pedregosos, enquanto as ovelhas amodorravam junto do rio, procurando a sombra dos barrancos marginais, cabeça metida entre as patas traseiras umas das outras, batendo o fole de calor, enlodando a água a que os peixes acorriam, na esperança de biscato.
Bento da Cruz, Planalto em Chamas (Lisboa, 1963), in Trás-os-Montes e Alto Douro
Glossário
Vezeira
, s. f. Prov. minh. e trasm. Rebanho que se reveza com outros em certas pastagens. |Rebanho de porcos no pasto. | Prov. minh. Curral onde se reúnem os gados
Vezeireiro, s. m. Prov. trasm. Guarda ou dono de uma vezeira.
Vezeiro, s. m. O m. q. vezeira. Prov. minh. Pastor que pastoreia em comum rebanhos pertencentes a vários proprietários. | Ter. do Gerês. Pequeno plano abrigado, junto dos chamados fornos, em que os pastores reúnem à noite o gado. | Proprietário ou patrão de vezeira; vezeireiro.
Fonte: Grande Dicionário da Língua Portuguesa | Imagem