Trajes

Trajes tradicionais e regionais do Alto Douro

O traje etnográfico alto-duriense

Ficaram-me na memória as mulheres do Douro que iam a Amarante, minha terra, vender uvas e outra fruta. Eram cabazes que esperávamos com ansiedade.

Com o lenço a envolver a testa e as pontas do laço atrás, na nuca, estas mulheres foram o primeiro Douro que eu conheci.

Raramente enxergo, agora e no Douro, as mulheres da minha infância. Lenço atado no alto da cabeça é cópia ou duplicado das “Lavradeiras” de Afife ou de Santa Marta de Portuzelo.

Florido, colorido, com fitas e brilhos, de ouro aos novelos e nas “arrecadas”, o traje vianense é bonito. Todos o apreciamos e, no Entrudo, ganha a categoria de traje nacional.

Mas o Douro tem o direito a que lhe respeitem o seu guarda-roupa: a “baeta” grossa do saiote feminino e de algumas camisas masculinas, a roupagem de flanela, o avental simples de trabalho e o gaiteiro da festa, comprido e a apanhar a blusa, etc.

Há muito mais, que isso é para um trabalho ou estudo a elaborar. Há, de facto, pano para mangas. Assim houvesse dedicação.

O calçado

Desçamos ao pé. Com licença da bota grossa muito usada, naturalmente, e com licença do sapateiro, gostaria de lembrar os socos e as socas e a figura bem popular do soqueiro. Ainda hoje, ali e acolá, ao sapateiro se chama soqueiro.

Traje do Douro! Talvez muitas arcas ainda guardem peças bonitas e esquecidas. É preciso matar a traça e estender ao sol esses tesouros e fazer festa, etnografia e museu. E preciso recordar aos novos as saias onde muitos se agarraram, os aventais que lhes limparam o nariz e as socas que subiram piedosas, a estrear, à Virgem do Socorro ou à Virgem dos Remédios.

É preciso que ninguém tenha rebuço de qualquer resto de suor das botas grossas que engenharam e envelheceram nos socalcos da cava, dos saibramentos e da vindima. Assim seja!

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Avec le foulard autour du front et la noeud derriére la nuque, ces femmes ont été le premier “Douro” que j’ ai connu“.

Foreheads wrapped up in their Kerchiefs, tips Knotted on the nape, these women were the first “Douro” I knew“.

Luís Morais Coutinho, Subsídios históricos e etnográficos do Alto Douro | Imagem: vindima no Alto Douro Vinhateiro