Provérbios sobre as atividades agrícolas e o clima
Provérbios sobre as atividades agrícolas e o clima
Os provérbios são elementos de sabedoria popular que transmitem conhecimentos comuns sobre a vida do dia-a-dia, às vezes contraditórios, pois a “verdade” a que dizem respeito não pode ser separada da comunidade sociocultural que lhe deu origem.
Abaixo, uma listagem de provérbios sobre as atividades agrícolas e o clima, recolhidos na região de Trás-os-Montes e Alto Douro:
De Janeiro a Julho
» Por Santo Antão (17.1), neve pelo chão.
» Por S. Sebastião (20.1), laranja na mão.
» Por S. Matias (24.2), começam as enxertias.
» Por S. Matias, noites iguais aos dias.
» Por S. Marcos (25.4), bogas e sáveis nos barcos.
» Por S. Barnabé (16.5), seca a palha pelo pé.
» Pelo S. João (24.6), ceifa o pão.
» Pelo S. João, lavra se queres ter pão.
» Lavra pelo S. João: terás palha e grão.
» No S. João, semeia de gabão.
» Pelo S. João, deve o milho cobrir o cão.
» Pelo S. João, figo na mão.
» Até ao S. João, é sezão.
» Para o S. João guarda o melhor tição.
» Até ao S. João sempre de gabão.
» Ande por onde andar o Verão, há-de vir pelo S. João.
» Galinhas de S. João, pelo Natal, ovos dão.
» Sardinha de S. João pinga no pão.
» Ande o calor por onde andar, pelo Santo António (13.6), há-de chegar.
» No dia de S. Pedro (29.6), vai ver o olivedo. Se vires um bago, conta um cento.
» Por S. Pedro, fecha o rego.
» Por Santa Marinha (18.7), vai ver a tua vinha.
» Por Santa Ana (26.7), limpa a pragana.
De Julho a Setembro
» Por S. Gens (25.8), vareja as nozes se as tens.
» Chuva por Santo Agostinho (26.8), é como se chovesse vinho.
» Por S. Mateus (21.9), pega nos bois e lavra com Deus.
»Por S. Mateus, vindimam os sisudos e semeiam os sandeus.
» Por S. Mateus, conta as ovelhas, que os cordeiros são teus.
» Nas têmporas de S. Mateus, pede bom tempo a Deus.
» Nas têmporas de S. Mateus, não peças chuva a Deus.
» Águas verdadeiras por S. Mateus as primeiras.
» Quem planta no S. Miguel (29.9), vai à horta quando quer.
» Quem se aluga no S. Miguel não se senta quando quer.
» S. Miguel soalheiro enche o celeiro.
» S. Miguel das uvas, tanto tardas e tão pouco duras!
» S. Miguel passado, tanto manda o amo como o criado.
» Se houvesse dois S. Miguéis no ano, não havia moço que parasse no amo.
Em Setembro e Outubro
» Por S. Francisco (4.10), semeia o trigo. O velho que tal dizia já semeado havia.
» S. Francisco veja o teu campo arado e teu trigo semeado.
» Por S. Lucas (18.10), colhidas estão as uvas.
» Por S. Lucas, mata os porcos e tapa as cubas.
» Por Santa Ireia (20.10), pega nos bois e semeia.
» Por S. Judas (28.10), colhidas são as uvas.
» Por S. Simão (29.10), semear sim, navegar não.
» Por S. Simão, favas na mão.
» No dia de S. Simão, quem não faz magusto não é bom cristão.
» Quem não planta horta pelos Santos (1.11), inveja a dos vizinhos e espreita pelos cantos.
» Por Todos os Santos, neve pelos cantos.
» Pelo S. Martinho (11.11), semeia a fava e o linho.
» Pelo S. Martinho, mata o porco e semeia o cebolinho.
» Queres espantar o vizinho? Lavra e estruma no S. Martinho.
» No dia de S. Martinho, encerra o porquinho, souta o soutinho e prova o teu vinho.
» Por S. Clemente (22.11), alça a mão da semente.
» Pelo Santo André (30.11), faz o reco cué… cué…
» Por Santo André, pega no porco pelo pé. Se ele disser cué, cué, diz-lhe que tempo é; se ele disser que tal, que tal, guarda-o para o Natal.
Em Dezembro
» Santa Luzia (13.12) não quer neve. S. Gonçalo não a pede.
» Dos Santos ao Natal, Inverno natural.
» Tudo vem no seu tempo e o nabal pelo Advento.
» Dos Santos ao Advento, pouca chuva e pouco vento.
» No Advento, racham as pedras com o vento.
» Pelo Natal, poda natural.
» Pelo Natal, sacha o faval.
» Quem vareja antes do Natal deixa o azeite no olival.
» Se queres bom alhal, planta-o pelo Natal.
» No Natal, tem o alho bico de pardal.
» Caindo o Natal à segunda-feira, pode o lavrador alugar a eira.
» Ande o frio onde andar, no Natal há-de chegar.
» Natal molhado: ano melhorado.
» No Natal, é bom chover e melhor nevar.
» Mal vai a Portugal se não houver três cheias antes do Natal.
Ao longo do ano
» Chuva na Ressurreição fura as nozes e leva o pão. Chuva na Ascensão das pedras faz pão.
» Rimos molhados: carros quebrados.
» Chuva no S. João bebe o vinho e come o pão.
» Chuva por S. Martinho é como se chovesse vinho.
» Nunca passou por mau tempo a chuva da Primavera e do Advento.
» No Natal, fiar; no Entrudo, dobar; na Quaresma, tecer; e na Páscoa, coser.
» Boa é a neve que em seu tempo vem.
» Boa nevada: terra estrumada.
» Sete nevadas e um nevão dão muito pão.
» Ano de nevão: ano de pão.
» Ano nevoso: ano formoso.
» Em ano de muita neve, paga o lavrador o que deve.
» Folga o pão debaixo do nevão.
» Folga o trigo debaixo da neve como a ovelha debaixo da pele.
» Quer chova, quer neve, quem tem sede bebe.
» Com vento, se limpa o trigo e os vícios com castigo.
» Com vento de feição, boa navegação.
Fonte: Literatura Popular de Trás-os-Montes e Alto Douro – Joaquim Alves Ferreira, IV Volume, 1999 | Imagem