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Pedro Homem de Mello

Nasceu no Porto, a 6 de Setembro de 1904, e faleceu, na mesma cidade, no dia 5 de Março de 1984

Poeta e folclorista. Em 1926 formou-se na Faculdade de Direito de Coimbra. Foi Delegado do Procurador da República em Águeda (1927) e exerceu a advocacia.

Professor do Ensino Secundário, foi Diretor da Escola Comercial Mouzinho da Silveira.

Estudioso do folclore português, dedicou a este campo numerosos programas na televisão e ensaios como

– A Poesia na Dança e nos Cantares do Povo Português, 1941,

– Danças Portuguesas e Danças de Portugal.

Poeta, fez parte do movimento da revista Presença.

Estreou-se com o volume Caravela ao Mar, 1934,

 e com Segredo, 1939, obteve o prémio Antero de Quental, com Há Uma Rosa na Manhã Agreste, 1964, o Prémio Ocidente, com Eu Hei-de Voltar um dia, 1966, o Prémio Casimiro Dantas, e Eu Desci aos Infernos, 1972, o Prémio Nacional de Poesia.

As raízes do seu lirismo bem português mergulham na própria vivência íntima e na profunda sintonia com o povo, cuja alma se lhe abria através do folclore, tendo por cenário a paisagem nortenha.1

Certidão de nascimento de Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello
Certidão de nascimento de Pedro da Cunha Pimentel Homem de Mello 2

Notável estudioso e divulgador do Folclore Português

Pedro Homem de Mello “Foi

– estudioso e divulgador do Folclore Português,

– criador de vários ranchos de folclore no Minho

– e apresentador de um programa de folclore na RTP.

Chegou a levar o então Rancho de Afife a um desses programas, em que o povo da freguesia nos anos 60 e 70, numa altura em que ter televisão era um luxo, enchia a Casa do Povo, só para assistir no pequeno ecrã, ao referido programa em que Afife e o seu folclore serviam de tema central.

Pedro Homem de Mello, era habitual frequentador da praia de Afife, onde se deslocava de bicicleta desde Cabanas e mais tarde fazia o percurso a pé.

Segundo nos chegou a confidência o senhor Joaquim Carvalho, proprietário do restaurante da praia, o poeta ia sempre tomar o seu café, numa mesa mais chegada à janela com a vista sobre o mar, muitas vezes escrevia ali alguns dos seus poemas e um dia fez um especialmente dedicado ao senhor Carvalho que este quando tinha o estabelecimento aberto, fazia questão de o ter encaixilhado em local de destaque.

Dizia-nos ainda que escolhia o bar da praia para vender os seus livros e mesmo para fazer a sua apresentação, como aconteceu no “Fandangueiro“. Ou assim se pensa, já que a memória falha por vezes.

Mas adianta-nos que terá sido mesmo este, que as pessoas de Afife e não só num domingo à tarde cheio de sol, encheram o bar da praia para comprarem o livro que o poeta fez questão de autografar, com dedicatória.

Não perdia uma festa popular…

Dizia-nos então o senhor Carvalho, na altura em que o entrevistamos para um programa de rádio, que quando começou a fazer as festas de passagem de ano, o poeta, aparecia sempre e tinha uma característica especial, é que quando chegava à meia-noite, descia à praia e ia dar um mergulho, fossem frio ou calor, mesmo em noites de chuva, essa foi prática constante durante muitos anos.

Como homem do folclore, sempre que podia, não perdia uma festa popular onde se dançava e cantava aquilo que o povo tinha na alma.

Era frequentador do S. João de Arga. Não perdia as exibições das concertinas e mais tarde, quando apareceram os altifalantes, não era apologista que estes abafassem os populares instrumentos de fole.

E Camilo Ramos relata uma situação vivida no alto da serra pelo poeta, precisamente num arraial do S. João de Arga, em que os altifalantes se misturavam com o toque das concertinas.

Abeirou-se do homem da amplificação sonora e pediu para parar com a música para que o povo pudesse ouvir as concertinas, mas como não conseguiu ver esse intento conseguido, perguntou, quanto ele queria para calar a amplificação.

Então o poeta pagou na altura, 10 contos, o que era um dinheirão na altura e assim sem amplificação sonora a noite foi para as concertinas e os cantares do povo.

*****

Povo que lavas rio 

 

Povo que lavas no rio,

Que vais às feiras e à tenda,

Que talhas com teu machado

As tábuas do meu caixão,

 

Pode haver quem te defenda,

Quem turve o teu ar sadio,

Quem compre o teu chão sagrado,

Mas a tua vida, não!

 

Meu cravo branco na orelha!

Minha camélia vermelha!

Meu verde manjericão!

Ó natureza vadia!

Vejo uma fotografia…

Mas a tua vida, não!

 

Fui ter à mesa redonda,

Bebendo em malga que esconda

O beijo, de mão em mão…

Água pura, fruto agreste,

Fora o vinho que me deste,

Mas a tua vida, não!

 

Procissões de praia e monte,

Areais, píncaros, passos

Atrás dos quais os meus vão!

Que é dos cântaros da fonte?

Guardo o jeito desses braços…

Mas a tua vida, não!

 

Aromas de urze e de lama!

Dormi com eles na cama…

Tive a mesma condição.

Bruxas e lobas, estrelas!

Tive o dom de conhecê-las…

Mas a tua vida, não!

 

Subi às frias montanhas,

Pelas veredas estranhas

Onde os meus olhos estão.

Rasguei certo corpo ao meio…

Vi certa curva em teu seio…

Mas a tua vida, não!

 

Só tu! Só tu és verdade!

Quando o remorso me invade

E me leva à confissão…

Povo! Povo! eu te pertenço.

Deste-me alturas de incenso,

Mas a tua vida, não!

 

Povo que lavas no rio,

Que vais às feiras e à tenda,

Que talhas com teu machado,

As tábuas do meu caixão,

Pode haver quem te defenda,

Quem turve o teu ar sadio,

Quem compre o teu chão sagrado,

Mas a tua vida, não!

 

Pedro Homem de Mello, in “Miserere”

1 “O Grande Livro dos Portugueses” – Círculo de Leitores | 2 (texto editado e adaptado)

2 Código de referência: PT/ADPRT/PRQ/PPRT04/001/0082 | Link: https://pesquisa.adporto.arquivos.pt/details?id=901199 | Imagem: PT-ADPRT-PRQ-PPRT04-001-0082_m0294.tif