Pauliteiros de Miranda | Danças tradicionais
Os Pauliteiros de Miranda e a Dança dos Paulitos
Algumas novidades e correções sobre a Dança dos Paulitos: Distribuição geográfica em Portugal e Espanha; origem provável; características; número de componentes; análise morfológica dos passos da dança.
A famosa dança dos paulitos, vulgarmente conhecida em Portugal pela denominação de «Pauliteiros de Miranda», está atualmente circunscrita, em nosso País, a alguns concelhos de Entre-Douro e Sabor, no Nordeste, sendo o concelho de Miranda, aquele onde se guarda ainda com todas as características e regras tradicionais.
Não é única.
Estende-se por toda a Espanha com a mesma forma e traços mais ou menos idênticos.
Deve por isso considerar-se uma Dança Peninsular.
A sua origem é obscura.
Querem que seja a Dança Pírrica dos gregos, mas sem fundamento sólido.
É possível que algo dela tenha vindo, através dos gregos e romanos; e os celtiberos, com elementos das três culturas e os séculos medievais com a nova cultura cristã e rural, a tivessem completado como hoje existe.
Sendo, no fundo, uma dança guerreira, porque a execução da dança com paus assim o parece significar e alguns números claramente o definem, os temas literários e até musicais abarcam a vida toda da gente mirandesa que a executa:
– a religião,
– a vida agrícola,
– amorosa,
– venatória,
– divertida,
– picaresca,
– de descrição geográfica, etc.
O número certo de executantes da dança completa em Portugal, e passos da música, não dão para mais do que 8 componentes e só para estes há lugares definidos e insubstituíveis.
Os números da dança, com traços mais ou menos comuns entre si, salvo raras exceções, obedecem a regras e terminologias preestabelecidas pelos séculos, meticulosamente certas.
É, pois, um composto perfeito, na forma, na letra, na música e nos passos coreográficos.
Pelo Padre António Maria Mourinho (in Guia Oficial do I Congresso de Etnografia e Folclore, promovido pela Câmara Municipal de Braga | Braga – Viana do Castelo | 22 – 25 de Junho de 1956) – texto editado e adaptado
Pauliteiros de Miranda
No planalto mirandês existem grupos de oito homens que vestem saias e tem paus.
Dispensam apresentações. Já todos os conhecem: são os Pauliteiros de Miranda.
Com os saiotes brancos, lenços, os chapéus e os pauliteiros transportam uma tradição que procuram defender com unhas e dentes. E apesar de já não existirem tantos grupos como antigamente. As letras, os passos e os trajes ainda se mantêm fiéis à origem.
Mas o mais óbvio é perguntarmo-nos: de onde vem esta tradição?
A origem não está definida.
Contudo, há quem defenda que se trata de uma dança guerreira, que descende de tempos Greco-romanos e que os homens foram adaptando e transformando à sua maneira.
Segundo este ponto de vista, os paus mais não são do que a substituição do escudo e da espada. É por isso que o pau da mão esquerda defende e o da mão direita ataca.
Quanto ao traje, o lenço mais não é do que um adorno, bastante garrido, que varia consoante o homem que o usa.
E no que diz respeito à saia, ainda hoje, quando chega o momento da “dança da velha“, hábito típico do dia 1 de Janeiro, em Vila Chã, os homens se vestem de mulheres e vão para a rua.
Pegam na “dianteira”, que é uma faixa em linho que envolve a cama e colocam-na à sua volta.
Campanitas de Toledo
A dança de paus mais típica e tradicional é a “capanitas de Toledo“.
É uma canção que não nega a forte influência espanhola. Influência essa, que é evidente no fado das letras das canções surgirem no dialeto mirandês ou na língua espanhola.
A letra desta canção fala das igrejas importantes de Espanha e também da gastronomia, que seriam possivelmente dois motivos de interesse das pessoas da região: os belos monumentos e os fartos enchidos.
É uma dança onde não faltam as principais maneiras de bater os paus: “pau picado“, (bate no próprio pau antes de bater no do colega) “pau por baixo” (da cintura) e “pau por cima“.
Apesar de, à primeira vista, aquelas danças de homens não parecerem seguir qualquer princípio rígido senão o do bater dos paus, há regras que devem ser seguidas.
Cada um deles tem no grupo uma função muito própria e única. Em cada dança é obrigatório existirem oito homens, entre eles dois guias direitos e dois guias esquerdos, dois peões direitos e dois peões esquerdos.
Os guias movem-se nas pontas e dançam frente-a-frente; os peões circulam no meio.
O guia direito tem um estatuto um pouco diferente dentro do grupo, pois assume a responsabilidade da dança e, antigamente, comandava o grupo que nos dias de S. Sebastião e Santa Bárbara, andava pela aldeia a pedir esmola e a dançar.
Nessa altura, todas as aldeias tinham pauliteiros. Nem todos os homens dançavam, mas escolhiam-se os mais ágeis e com “melhores” pés.
Os mais novos não têm problemas em aderir. No início, os paus assustam um pouco, mas bastam oito dias de treinos diários e o ‘milagre’ acontece. Não sem antes levar umas boas ‘pautadas” nos dedos, claro está!…
Fonte do texto | Imagem de destaque: Ilustração de Mário Costa (1902-1975)