Os Maios e as Maias anunciam a Primavera
Os Maios e as Maias
Com a entrada do mês de Maio, enfeitam-se de giestas floridas as janelas das casas nas vilas e aldeias do Minho anunciando a chegada da Primavera em todo o seu esplendor e, com ela as flores que contribuem para alegrar a nossa existência, perfumar e dar colorido ao ambiente que nos rodeia.
São as maias feitas de ramos de giestas com as suas flores amarelas. Por tradição, estas são colocadas nas portas e carros agrícolas. Este costume é uma forma de celebrar o renascimento da vida vegetal.
No concelho de Caminha, em pleno Alto Minho, uma das localidades onde a festa é vivida com mais intensidade, as giestas floridas aparecem em todos os sítios, incluindo nos veículos que transitam na via pública.
Festa atualmente pouco divulgada
Actualmente pouco divulgada, a festa das maias foi noutras épocas celebrada em todo o país. Caiu em desuso devido a sucessivas proibições pelas rixas originadas pelo despique entre localidades ou ainda por motivos religiosos. Por exemplo, tal sucedeu em 1402 por imposição régia a qual determinava que
“nõ cantassem mayas, ne Janeiras, e outras cousas q eram contra a ley de deus“.
A sua origem perde-se nos tempos e corresponde às Florálias celebradas entre os romanos e dedicadas a Flora. Esta era a deusa das flores e da Primavera, a quem consagravam os jogos florais.
Durante três dias consecutivos, as mulheres dançavam ao som de trombetas. Eram coroadas de flores as que logravam ganhar os jogos, adornando-se desse modo à semelhança da própria divindade a que prestavam culto. Aliás, é precisamente aos romanos que se atribui a implantação de tal costume na Península Ibérica, tendo a mesma alcançado especial aceitação na região do Algarve.
Costumes de tempos idos
Também entre nós houve em tempos idos o costume de, por esta ocasião, coroar-se de flores uma jovem vestida de branco, prestes a entrar na primavera da vida.
Era uma maia adornada de jóias, fitas e flores que nos trazem à lembrança as fogaceiras de Santa Maria da Feira e as moças que levam à cabeça os característicos tabuleiros das festas de Tomar.
E, tal como Flora entre os romanos, a jovem maia sentava-se num trono florido a cujos pés o povo dançava durante todo o dia, venerando desse modo a esbelta divindade pagã e celebrando os seus atributos que se permitiam o retorno dos vegetais.
Conta ainda uma lenda antiga que em Lagos, no Algarve, tal costume incidia sobre um homem da terra que era adornado com as melhores jóias, o qual percorria as ruas da cidade montado num asno.
Sucedeu que, em certa ocasião, terminada que foi a volta pela cidade, o maio dirigiu-se para os campos junto da cidade e desapareceu para nunca mais ser visto. Em virtude do ocorrido, o povo que ainda espera o seu regresso com as jóias que consigo levou, passou a designar o Maio como “o mês que há-de vir“…
Outras celebrações
E, enquanto o Maio não chega para as gentes de Lagos, é altura de festejarmos as maias, alegrando as janelas com ramos de giestas floridas. Em breve virá a celebração
– do Corpus Christi e a Vaca das Cordas em Ponte de Lima,
– as festas do Espírito Santo e a Coca em Monção,
– a festa das fogaceiras em terras de Santa Maria da Feira
– e as fogueiras pelo S. João a evocar o solstício do Verão.
A seu tempo chegarão as colheitas e as malhadas, as vindimas e as adiafas e, pelo S.Miguel, as desfolhadas ou descamisadas. Para trás fica o entrudus e as festas equinociais e pascais, a Serração da Velha e a Queima do Judas.
Assegurámos através do rito a ininterrupção do ciclo da natureza, participando desse modo na acção criadora dos deuses. Pela tradição, preservamos usos e costumes que chegaram até aos nossos dias e fazem parte do nosso folclore. Festejemos, pois, as maias, fazendo-as ressurgir com o mesmo colorido, alegria e pujança como nos tempos antigos!
Carlos Gomes, Jornalista, Licenciado em História | Imagens: Maias em Valença