Os carregadores dos cestos vindimos no Alto Douro
Os carregadores dos cestos vindimos
«Os cestos vindimos eram altos, de fundo rectangular e estreito e de boca também rectangular mas larga. Tinham uma asa, reforçada por fitas que mergulhavam no teçume, em cada um dos remates das duas paredes mais pequenas e uma terceira, mais pequena, no terço superior duma das paredes mais largas.
Quando já havia tantos cestos quantos os homens, estes carregavam-nos às costas. Pesavam 60 a 70 kg. Os rapazes ajudavam-nos a erguer.
Os carregadores assentavam-nos em cima duma “trouxa“, constituída por um rolo de pau enrodilhado numa pele de animal, ou empalhado, suspenso duma correia ou cinta de linhagem, que passava pela testa do carregador.
O cesto era seguro por meio de um gancho de arame ou pau (garrancho), que prendia na pequena asa lateral.
Por baixo da trouxa, os carregadores usavam uma saca de sarapilheira enfiada na cabeça, como capucha, para protegerem as costas e a nuca e para não se sujarem.
Para ordenar e animar o pessoal, os carregadores formavam em fila indiana, simples ou dupla: à frente seguia a trempe dos tocadores; a seguir, estendiam-se os carregadores; no fim, a fechar o bando, ou ao lado, vinha o feitor dos homens, de pau na mão.
Das vinhas até ao lagar
No caso de não haver trempe, um carregador apitava cadenciadamente um assobio, ou tocava uma flauta, ou um rapaz ou uma mulher tangia uma pandeireta ou uns ferrinhos.
Em S. João da Pesqueira, no meio da fila, que era dupla, caminhava alguém com um casal de bonecos de madeira, marcando o ritmo.
Aí, o homem do harmónio não fazia outra coisa senão tocá-lo, ora nas caminhadas, ora nas lagaradas.
A passos ritmados, ora por entre as filas de videiras, ora por escadas a pique, ora por carreiros apertados, os homens dos cestos seguiam na direcção da casa do lagares.
Alguns apoiavam-se em sachos. Se a distância o pedisse, o feitor mandava pousar os cestos em cima de uma parede suficientemente elevada. A viagem prosseguia em breve.
Chegados junto à casa dos lagares, despejavam os cachos por uma janela própria, que dava para as traseiras dos edifícios, no lagar. Cumprida a tarefa, tinham o direito a meio copo de aguardente.»
Texto retirado de “Alto Douro, terra de vinho e de gente – A vida quotidiana alto-duriense no primeiro terço do século XX”, de A.L. Pinto da Costa (texto editado) | Imagens: postais