O Traje Masculino do Alto Minho | Textos e opiniões
Traje masculino no Alto Minho
Desde os primórdios da humanidade, a função primordial do vestuário consistiu em agasalhar.
Porém, para além do conforto que proporcionava, o Homem sentiu ainda a necessidade de se cobrir e criar a sua intimidade, à semelhança de Adão e Eva ao tomarem a consciência da sua própria nudez.
Entretanto, à medida que a sociedade foi evoluindo e o ser humano tornando-se sedentário, adaptou a sua maneira de vestir às diferentes exigências do trabalho e do clima.
Para além disso, passou a também a utilizá-lo como meio de comunicação, através dele exprimindo diferentes estados da alma, mormente alegria ou tristeza, festa ou luto, paz ou revolta. E, quando era chamado a combater, engalanava-se com as suas melhores vestes para, de forma cerimonial, se entregar à morte ou a glória.
Natureza utilitária
A natureza utilitária do vestuário antecede a sua função decorativa que, aliás, não a substitui. Modernamente, o casaco constitui uma peça de vestuário concebida geralmente em tecido mais pesado e grosso com o objectivo de proteger contra o frio.
Originalmente, esta peça aparecia sempre associada ao colete e às calças, constituindo um terno. Aliás, pela forma que o caracteriza, o uso do colete não parece fazer sentido sem o casaco.
Mas, para além da sua utilização como meio de agasalho, representa em virtude do seu aspecto, da sua funcionalidade e do seu relativo custo um elemento cerimonial e identificador de estatuto social. Aliás, à semelhança do que sucede com a capa de honras utilizada em Miranda do Douro.
Fatos apresentados por Grupos de Folclore
Pelas mais variadas razões, o fato masculino no traje do Alto Minho, exibido por alguns grupos folclóricos, tem com alguma frequência sido apresentado com um corte arredondado e botões de grandes dimensões que lhe retiram a sua funcionalidade enquanto peça de vestuário para se transformar num adereço de fantasia.
Os próprios botões, geralmente em plástico e de cor branca, estendem-se em grande número ao longo das mangas ou mesmo em seu redor, conferindo a quem o veste um aspecto algo apalhaçado.
Concebido a partir de resíduos do petróleo, o plástico tal como o conhecemos constitui um produto inventado no século XX. Difundiu-se sobretudo após a segunda guerra mundial.
A partir de então deu origem a novos conceitos de moda identificados com a denominada “linha POP” ou PopLine. Daqui deriva o termo popelina.
Apenas a baquelite foi inventada em 1909 e esta mais usada no fabrico de equipamentos eléctricos.
Por conseguinte, o emprego do material plástico em peças de vestuário que são apresentadas como reproduções das que eram usadas nos finais do século XIX não parece fazer o menor sentido.
Materiais diversos
Os materiais utilizados no fabrico dos botões eram em geral de metal, podendo estes variar consoante a função do vestuário e o estatuto social de quem o usava.
Assim, de acordo com a peça de vestuário em causa ou seja, tratando-se do colete ou do casaco, em traje domingueiro ou de trabalho, podiam apresentar-se sob a forma de botões ou de ferragens, de metal mais ou menos nobre, ou ainda de osso feito das pontas dos chifres das cabras.
Os coletes apresentavam aberturas de casas para os botões enquanto os casacos utilizam frequentemente presilhas.
A utilização de madrepérolas surgia geralmente no vestuário feminino das pessoas mais abastada
Do Carnaval para o palco do Folclore
Pela sua exuberância e colorido, o traje à vianesa e demais trajes minhotos em geral, foram desde sempre os preferidos de crianças e adultos nas suas brincadeiras de Carnaval como se de um fato carnavalesco se tratasse.
Não admira, pois, que de igual forma o mesmo se tenha prestado à fantasia e imaginação de quem o utiliza. E com o decorrer do tempo, lhe tenham sido introduzidas alterações com o propósito de o tornar ainda mais vistoso.
Acabaram por levar para o palco do folclore uma imagem de traje que não corresponde inteiramente à sua realidade mas que, pela repetição constante do erro, acabou de certa forma por adquirir foros de autenticidade que não possui.
Carlos Gomes, Jornalista, Licenciado em História (texto editado)