“O pitoresco folclórico do trajo à vianesa”

O trajo à vianesa

O trajo à vianesa ocupa lugar de maior destaque entre os inúmeros motivos que mais largamente concorrem para que Viana do Castelo seja considerada uma verdadeira terra de eleição.

Não existe, na etnografia portuguesa, trajar mais variado e típico, de maior riqueza de ornatos e colorido, nem de beleza mais graciosa que este.

Tem sobre todos, ainda, o privilégio de ser, peça por peça, inteiramente executado pela sua dona, desde a fiação do linho e da lã, à tecelagem, desde o tingir ao bordar.

A imensa variedade e qualidade dos trajos «à vianesa», de que a seguir daremos muito resumida nota, provém essencialmente de traduzir as pequeninas diferenças de hábitos e costumes que separam freguesia de freguesia, e até no seio destas, os próprios lugares.

Os trajos de grande cerimónia

Os trajos de grande cerimónia, o da Comunhão, o da Mordomia e o de noivado, formam um conjunto encantador, onde a par da distinção se pode admirar a beleza enternecedora que sobressai dos bordados a vidrilho «cor de luar».

Para os outros atos festivos a indumentária é mais alegre, impondo-se pela vivacidade e exuberância do colorido.

São os chamados fatos de luxo, cuja cor predominante – o vermelho, o verde ou o azul – não depende apenas do gosto da tecedeira, como sucede com os bordados, pois será verde, azul ou vermelha, consoante se usa na freguesia a que ela pertencer.

 

 

O fato de verão marca a transição entre o trajo de luxo e o de trabalho.

Usado aos domingos e dias santificados, para ir à erva ou à fonte – pretextos de que a lavradeira se serve, as mais das vezes, para encontrar-se com o namorado – realça-lhe sobremodo as formas graciosas do corpo juvenil.

Compõe-se de saia de linho branco, por vezes avergastado, com larga barra de cor preta, azul ou vermelha.

A camisa é bordada a branco por sobre os ombros e nos punhos, sendo de trespasse o colete, e a fitilha que o guarnece forma sempre um coração ao centro do peito.

O avental é de quadrados, bordado a ponto de cruz, na parte de cima.

A algibeira é muito simples, sendo de chita o lenço da cabeça.

Usa-se com socos de biqueira arrebitada e em lugar de meias calçam peúgas.

 

Para ler: Traje à Vianesa é Património de Interesse Municipal

Os fatos de trabalho

De tecidos mais grosseiros, como é óbvio, faz a mulher vianense os seus fatos de trabalho. Contudo, isso não impede que a sua elegância e donaire se revelem com acentuado vigor.

O fato de trabalho dá-lhe, sim, tal desenvoltura e garridice que os atrativos da sua feminilidade ficam imensamente realçados.

Os fatos de trabalho são numerosos, pois a lavradeira não se veste de maneira idêntica quando vai para o monte roçar uma. bouça de mato, ou quando sobre uma jangada ou, então, a pé, avança afoitamente contra as ondas do mar na apanha de sargaço e, ainda, se no campo ou na veiga se ocupa duma lavrada, sacha uma leira de milho ou carrega um carro de centeio que ajudou a ceifar.

A riqueza do trajo regional de Viana do Castelo reside principalmente na sua grande variedade; o colorido e os lavores constituem, sem dúvida, a sua mais expressiva beleza.

Fonte: folheto promocional de Viana do Castelo, bastante antigo (texto editado)