I Congresso de Etnografia e Folclore – Resumos
I Congresso de Etnografia e Folclore
Títulos e resumos de intervenções (apenas as de língua portuguesa) apresentadas no I Congresso de Etnografia e Folclore, promovido e organizado pela Câmara Municipal de Braga, em Braga e Viana do Castelo, de 22 a 25 de Junho de 1956, conforme o respectivo Guia Oficial:
– O valor dos adagiários
O provérbio e sua expressão linguística
Em primeiro lugar, vêm as considerações preliminares acerca dessa coletânea; do valor do provérbio como elemento folclórico; da expressão formal do mesmo e do seu conteúdo ideal.
O ditado ou adágio é produto de criação popular. Breve referência faz o Autor ao pensamento dos clássicos a respeito dos adágios.
Depois vem a distinção sinonímica entre os termos: adágios, provérbios, rifões, ditados, etc., e exemplos de alcunhas étnicas e adágios em quadras populares.
Trata, em seguida, da pureza idiomática do adágio e do valor filológico dos adagiários. Dá exemplos.
Frisa, depois, o papel preponderante que a terra (o continente português) e o mar desempenharam na vida da linguagem do provérbio e doutras expressões normativas, em geral, em sentido figurado, generalizadas na linguagem geral. Dá exemplos.
Finalmente, faz breve referência a uma afirmação do grande polígrafo espanhol Rodrigues Marin acerca do valor do folclore.
Por Manuel Joaquim Delgado
– Los Ramos Procesionales
Pelo Dr. José Ramón Y Fernández
– Refranero del mar
Pelo Coronel Dr. José Gella Iturriaga
– Constituição dos lares de Goa
Pelo Prof. Pe Graciano Morais, do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos. Ler texto
– El informante, elemento humano en la recolección folclórica
Por Virgínia R. R. Mendonza, do Conservatório de Música da Universidade do México
– Analogias de refranes españoles e portugueses de aplicación psicomorfológica
Pelo Dr. Castillo de Lucas, Jefe de la sección de Medicina popular del Instituto de História de la Medicina del. Cons. Sup. de Inv. Cient. – Madrid
– Los Aguinaldos de la Santa Agueda – Fiesta de los Mozo de Ruguilla (Guadalajara)
Por S. Garcia Sanz
– Sobre um regime pastoril comunitário (Ermida – Ponte da Barca)
O autor analisa o comunitarismo pastoril que ainda hoje se verifica na freguesia de Ermida, do concelho de Ponte da barca.
Por João Machado Cruz, Assistente da Faculdade de Ciências do Porto
– Nótula folclóricas
Significação e âmbito do vocábulo folclore, sua entrada no vocabulário português;
tradição da caça do pio-pardo (gambuzinhos em Portugal e no mundo);
meteorologia adivinhada para o ano próximo futuro, pelos arremedantes (dias que simbolizam meses futuros) que parece arremedam bem;
superstições sobre feiticeiras, sombra de defuntos (até de anjinhos);
mezinhas para mal-da-gota (epilepsia), causa da doença, e remédio aplicado;
doenças dos ouvidos curadas com leite de mulher;
canções populares na fonética vulgar minhota, com notas gramaticais;
sentença vulgar sobre fidalgos, galos e galgos (significado vulgar de fidalgo e de trabalho);
rezas supersticiosas do povo, com fonética vulgar minhota, e respectivas notas gramaticais.
Pelo Dr. José Luís Ferreira
– Infuencias portuguesas en la cultura tradicional canaria
Pelo Dr. José Pérez Vidal
– Os santeiros da Maia – Arte popular religiosa do Norte
Imaginários e mestres de imagens foram os artistas que nos tempos medievais e nos da renascença esculpiram as figuras divinas e hagiológicas. Na era de seiscentos, porém, divulga-se o qualificativo de santeiros e aquele outro desaparece. Saber mais
Pelo Dr. Carlos de Passos
– Aspectos e canções da apanha da azeitona em Borba
Descrição dos aspectos mais característicos da apanha da azeitona no concelho de Borba, seguida da análise das poesias que os trabalhadores cantam, enquanto realizam essa tarefa, buscando determinar as suas principais tendências, marcar as atitudes psicológicas mais típicas e estudar algumas questões que elas suscitam.
Um apêndice à comunicação contém 300 quadras recolhidas pelo autor durante a apanha da azeitona do ano de 1946.
Pelo Prof. Doutor Fernando Castelo-Branco
– Notícias da Etnografia Portuguesa nas cartas do sueco Ruders
O pastor Ruders, que foi, de 1798 a 1802, capelão da legação da Suécia em Lisboa, escreveu, durante a sua estadia na nossa capital, a vários amigos de Estocolmo, cartas onde aborda um sem número de assuntos referentes ao nosso país e que, por não terem sido originariamente redigidas com intuitos de publicidade, constituem, por isso mesmo, documentos de grande interesse e valor.
Nesta comunicação apresentam-se noticias etnográficas extraídas dessas cartas, praticamente desconhecidas entre nós, sobre as festas dos santos populares Santo António, S. João e S. Pedro – sobre os festejos do carnaval em Lisboa, sobre vindimas, costumes ligados à Missa do Galo, etc., etc.
Pela Dr.ª Maria dos Remédios Castelo-Branco
– La purificación por el fuego
Por G. Manrique
– Aportación a la Paremiologia higiénico sanitária
Pelo Dr. Carlos Rico-a-Vello
– La composición de um museu etnográfico y folclórico nacional, como elemento de cultura
Por Ismael Del Pan Fernandez
– Folclore angolano – O folclore, factor social indígena
Para além dos aspectos mais comuns, populares e externos, como sejam as manifestações artísticas, coreográficas, corais, musicais e outras, o folclore indígena necessita ser visto e considerado em uma sua feição, de longe a mais importante, que é a social. Saber mais
Pelo Prof. Doutor José Redinha, do Instituto Superior de Estudos Ultramarinos
– Meigas e meiguerias (Bruxas e bruxedos) na tradizon da Galiza
Por Leandro Carré Alvarellos, da Academia Real Galega
– Teatro Popular – Da Idade Média à actualidade. Autos, representações e recreações. Os Quadros Vivos.
Exibição de figuras humanas a representarem mártires, santos ou diabos, os quadros vivos constituíam espectáculo curioso em que os actores se moviam, mas não falavam. Entendiam-se por mímica. Saber mais
Pelo Dr. Jaime Lopes Dias
– Lo essencial en la música de México
Pelo Prof. Dr. Vicente T. Mendoza, Professor da Universidade do México
– Tipos arcaicos no Traje Português (materiais e modelos)
Ainda hoje o povo português utiliza materiais, que directamente vai buscar à Natureza, para os empregar no traje. Peles, couros, lãs, no reino animal; palha, junco, madeira, no reino vegetal.
Como o homem primitivo, serve-se praticamente do que tem à mão. Prepara os materiais obtidos, utizando com inteligência a técnica necessária e apenas suficiente. Adapta-os formas suas, adaptadas e mantidas, em relação com o estilo de vida e com as condições exigentes do meio geográfico onde vive.
Pelo Dr. Luís Chaves
– Sistemas de abatanado de tejidos en Salamanca Y Avila
Por Luís L. Cortés Y Vázques
– Algunas fiestas religiosas de origen agrario en la region del Tâmega superior
Por Jesus Taborda
– Raíces folkloricas en la obras de Rosalia de Castro
Por Juan Maya Pérez
– A Confraria do Burraço em Quintela de Lampaças
Em 1578, a instâncias de naturais seus que em Castela haviam presenciado a veneração da Santa Cruz, o povo de Lampaças (Bragança) instituiu uma Irmandade desta invocação.
Logo os cristãos novos da terra, em desprezo daquela confraria, criaram uma outra, com organização semelhante, mas tendo por objecto comer, beber e folgar.
Denominaram-na do Burraço, concorrendo a ela cristãos velhos e até clérigos.
Naturalmente, o jogo causou escândalo e determinou, quatro anos depois, uma tardia intervenção do Santo Ofício.
É episódio curioso para o conhecimento do tão interessante e tão pouco estudado folklore judio-português.
Pelo Dr. Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas, do Museu de Etnografia – História do Douro Litoral
– A Vaca das Cordas
Sua tradição limiana.
Origem provável.
Documentação histórica.
Postura camarária sobre a obrigação dos moleiros do termo servirem às cordas.
O gado bravo de S. João.
Descritivo da usança.
Pelo Conde de Aurora
– A Romaria Minhota
Origem.
Antiguidade.
Descrição histórica.
Unidade intramnense.
Identificação provincial.
A romaria e o progresso.
Laicização e deslaicização da romaria minhota.
Os alto-falantes.
Tocatas.
Bandas.
Preconização de medidas drásticas.
Ortodoxia folclórica.
Pelo Conde de Aurora
– O Amor nas quadras populares portuguesas
São numerosas, inspiradoras e significativas as Quadras Populares que tratam do Amor:
… fogo que arde sem se ver
… ferida que doe e não se sente
… contentamento descontente
… dor que desatina sem doer.
Nessas quadras se preveem todas as situações a que podem levar os namoros, desde a classificação do amor, «uma albarda», até ser uma «paixão de alma».
Sendo o «amor um regalo», deve ser liberal no pedir.
É o que se afirma nas Quadras Populares.
Nascido do coração e da simpatia, o Amor preocupa extraordinariamente a alma simples do povo, que vive quase que exclusivamente para ele:
Paixão de alma:
A amar e a escolher amores
Ensinou-me quem sabia:
A amar foi a natureza
A escolher, a simpatia.
E enquanto houver mundo, o amor será um dos grandes problemas da humanidade.
Por Nuno Catharino Cardoso
– História do Folclore na Galiza – Estudo da Literatura Popular – Teatro Popular
Por Lois Carré Alvarellos da Real Academia Galega
– Da vida simples do povo português
Assunto:
Da vida simples do Povo Português.
História, costumes, tradições e linguagem de uma pequenina aldeia da Beira Douro.
1- História
a) Origens e etimologia
b) A tradição popular.
II – Costumes e tradições
a) O folclore, como manifestação do verdadeiro carácter dos povos.
b) O sentimento religioso e a superstição na vida tradicional das aldeias portuguesas.
c) Velhos costumes de antanho.
III – A linguagem
a) Frases e expressões características da linguagem popular.
Pelo Dr. Abílio Augusto Ferreira da Costa Brochado
– O S. Martinho em Portugal
Noção de manjares cerimoniais. A natureza alimentar das celebrações de S. Martinho. Os «Magustos do S. Martinho. Sua relação com a matança do porco.
O S. Martinho e o vinho: a prova do vinho. «Irmandades» e «Procissões de bêbados. S. Martinho e Santa Bebiana. Natureza ritual destas práticas e dos direitos licenciosos que os bêbados então têm, fundados na sua provável origem orgíaca. Outros costumes e sua interpretação. O S. Martinho e a Festa dos Rapazes em terras bragançanas.
Pelo Dr. Ernesto Veiga de Oliveira do Centro de Estudos de Etnologia Peninsular
– Dois aparelhos de elevar água de rega usados em Esposende
Descrição destes dois aparelhos, e sua integração na respectiva categoria tipológica. Um dos aparelhos é constituído por uma roda que aguenta o cadeado de canecos, e que simultaneamente serve para sobre ela marchar o homem que lhe dá o movimento.
O outro apresenta uma roda igual, mas é movido a gado; é de certo modo semelhante às noras de eixo baixo do litoral do centro do País.
Como característica especial, note-se que o cadeado dos canecos é integralmente de madeira.
2 Desenhos.
Pelo Dr. Fernando Galhano do Centro de Estudos de Etnologia Peninsular
– A fala infantil – falar precoce e falar tardio nas tradições do povo
Acreditava-se antigamente no prodígio de haver crianças que falavam antes do tempo.
É verdadeiramente milagroso o facto narrado por Fernão Lopes e aproveitado por Luís de Camões nos «Lusíadas»:
Uma menina ter-se-ia levantando no berço, erguendo a voz a favor do Mestre de Avis (1).
Garcia de Resende, na Miscelânea e Variedade de Histórias, cita também um menino aparecido em Évora, que, não tendo atingido a idade de dois anos, entendia, falava e «era já bom latino».
Por seu lado as tradições populares, como o romance de Dona Silvana, vieram demonstrar-nos a existência da mesma tradição no meio do povo anónimo. Saber mais
Pelo Dr. Augusto César Pires de Lima
– Prácticas magicas para provocar la lluvia
Por Joan Amades, Conservador do Museo de Industrias y Artes Populares de Barcelona
– Fundamentação filosófica do problema folclórico
A existência humana possui um carácter ingenitamente geórgico.
À luz de Verdade desta posição ôntica podemos deduzir, aprofundando a substância da experiência por um método de exame especulativo:
1.º as categorias metafísicas do processo de «incarnação»;
2.° os princípios que situam a «Pessoa» na «Natureza» e isto segundo um duplo plano individuante:
a) o imanente ao Homem
b) o do Homem na «Terra».
Dai dimana uma genuína fundamentação filosófica da realidade do «folclorismo» e a possibilidade de «introduzir» racionalmente os problemas suscitados pelo cunho geórgico da Existência Humana.
Pelo Doutor José Bacelar e Oliveira, S.J., Prof. da Faculdade de Filosofia – Braga
Fonte: “Guia oficial do I Congresso de Etnografia e Folclore” – Braga e Viana do Castelo – 22 a 25 de Junho de 1956 (texto editado e adaptado)