Folclore e Etnografia | Do alto da guarita
Folclore e Etnografia
Desde sempre existe quem considere “etnografia” como sinónimo de “trajos usados no folclore”, e a Federação considera-a como a “disciplina que descreve os povos/comunidades no que concerne aos seus usos, costumes, índole e cultura”.
Mas se há situações em que se respeitam diferentes conceitos, em meu entender estes não o são.
Sendo o folclore “a expressão das vivências das gentes de antigamente, no tempo em que a sua vida ainda não era tão influenciada pelos usos costumes de outros povos”, a “etnografia” é única e precisamente “o estudo do folclore”, como aliás o citam diversos dicionários.
Recordo-me que, procurando saber a visão que outros colegas destas andanças tinham de assuntos que considerava pouco clarificados, coloquei a seguinte questão:
Se estiver um “grupo” a actuar, onde está o folclore e onde está a etnografia?
E a resposta que me convenceu (Aurélio Lopes) foi: depende do Grupo.
O produto (aquilo que apresenta ou representa) pode, em termos otimizados, ser tudo folclore. Ou ser só uma parte. Ou até, não ser nada.
Etnografia não é um produto
Quanto à Etnografia, não “vemos” nada, em nenhuma circunstância.
Isto porque a Etnografia não é um produto, não é um conjunto de padrões ou de elementos culturais, mas simplesmente uma técnica ou um conjunto de técnicas de que fazem parte as entrevistas que se fazem aos informantes, a observação direta e outras que aqui não referimos para não confundir mais.
Não é um produto! Não é aquilo que se representa, melhor ou pior. É a metodologia de pesquisa de um de que o grupo se serviu para obter os dados que está a apresentar na dita autuação.
E porque considero que “tradição” nem sempre significa “tradicional”, acrescentava: e a “tradição”, onde está? E também aqui a resposta é igual à do “folclore”: pode ser tudo, ou só uma parte, ou até não ser nada.
“Porque a vertente tradicional é uma das componentes daquilo a que chamamos Folclore“.
Dito de outra forma, a cultura popular que consideramos folclore tem de ser tradição, tem de ser tradicional. Pois só a tradição permite a usualidade e só a usualidade permite a aculturação/folclorização dos padrões culturais.
Temos assim que o tradicional é sempre popular, mas o popular nem sempre é tradicional.
Lino Mendes | Imagem do RFVR