Folclore e Cultura Tradicional | Textos e opiniões
Folclore | Cultura tradicional
Já em 1878 o Folclore era reconhecido internacionalmente como “saber tradicional, história não contada de um povo”
Primeiro, para se referir às tradições, costumes e superstições das classes populares. Posteriormente, para designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes.
E porque a definição unitária se tornava muito difícil para os ensaiadores dos grupos de folclore, em 2002, e numa organização do Jornal Folclore, reuniram-se, em Santarém, a maioria dos especialistas e estudiosos, do que resultou uma síntese que eu considero de excelência para a realidade portuguesa, e que passo a transcrever:
Folclore é a expressão da vivência das gentes de antigamente quando a sua maneira natural de ser e de estar não era ainda tão marcada por influências que lhes chegavam de fora.
Em que tais influências eram recebidas, adotadas e aculturadas. Tradicionalizadas, se quisermos.
Antes de um tempo em que as mesmas se tornaram tão intensas e numerosas que elas próprias passaram a aculturar as vivências locais comunitárias. A alterá-las e fazê-las desaparecer. Como acontece hoje, influência que não se fez sentir em todo o lado ao mesmo tempo, dependendo isso da temporalidade e ritmo de mudança das diversas sociedades; naturalmente diferenciado.
Mas como sabemos então o que é Folclore?
Há quatro situações que quando em conjunto o determinam: ser popular, ser normalmente de autor desconhecido, ser tradicional e ser comunitário.
1) ser popular: ser usado pelo povo. A que o povo, pela dita usança, aculturativa ou não, adaptou, e conferiu características marcantes próprias.
2) ser normalmente de autor desconhecido: claro que tudo teve um autor, mas grande parte da criação popular é feita de sucessivas transformações: algumas tão ligeiras que nem se apercebem. Algumas involuntárias apenas dependendo das características do utilizador.
Dando o exemplo de uma “moda”, alguém a fez, mas tocador após tocador, cantor após cantor, com as alterações que involuntariamente foram sendo introduzidas, acabou por a ir alterando até algumas vezes se transformar numa música muito diferente: que podemos até não considerar o mesmo padrão.
Contudo, muitas músicas são de origem urbana que o povo vai adotando e adaptando. Nestas, como aliás nalgumas de criação local, pode-se às vezes identificar o autor. São, contudo, casos raros.
Mais características
3) ser tradicional: ter passado de geração em geração, chegando-nos por via oral ou por imitação, fazendo-se como se via fazer ou ouvia; devendo ainda entender-se como tradicional os comportamentos, os usos, as vivências, os valores que qualquer grupo social, relevante culturalmente, utilizou durante o tempo suficiente para impor a marca local, independentemente da sua origem e natureza.4) ser comunitário:pertencer a uma comunidade cultural significativa e não apenas a uma família ou pessoa. Ser usada pela totalidade da mesma ou por um grupo social de dimensão significativa.Exemplo: um fato muito bonito mas que só uma pessoa usava, pois lhe tinha oferecido por um familiar de outra região e nunca se vulgarizou localmente, não é folclore.