Ditos, provérbios e cantigas sobre a comida e o comer
Sobre a comida e o comer
Antes da sopa,
Molha-se a boca.
Sopa acabada,
Boca molhada.
Quem a meio da sopa não bebe,
Não sabe o que perde.
No meio dela,
Molha-se a goela.
Sopa acabada,
Goela molhada.
(Coimbra)
Barriga cheia,
Pé dormente,
Vou-me deitar
Que estou doente!
(Minho)
Ditos e expressões diversas sobre a comida e o comer
Quando se ingeriu um alimento de que se gostou, é costume dizer, como quem quer mais: «Soube a pouco!»
Gostando-se pouco de uma comida também se diz: «Soube que nem ginjas» (Lisboa) com alusão à ginjinha (ginja de infusão em aguardente)? Na Beira Baixa a expressão é: «Soube que nem figos», «…que nem nozes».
A salada deve ser temperada de azeite por um desgovernado, de vinagre por um governo e mexida por um doido (Beira, Estremadura).
A quem diz que vai comer é costume responder: «Que lhe preste!» O dito, muito português, vai sendo substituído por: «Que lhe faça bom proveito!», «Bom proveito!» Os espanhóis dizem também: «Buen provecho!» Os Alemães dizem à latina «Prosit!» No Peral ouvi assim: «Bom proveito à barriga e ao peito!»
Quando A deu qualquer comida a B e lhe cai ao chão, diz este de brincadeira. «Choraste-m’o?». Ou então diz A a sério: «Olha que não foi chorado» (Mesão Frio).
Quem comeu bem a uma refeição exclama: «Estou como um padre», «Estou como um abade».
Quem está à mesa não se faz velho.
O que não mata, farta. O que não mata engorda.
Quem se deita sem ceia toda a noite rabeia. (Porto).
Mas também se diz: Das grandes ceias estão as sepulturas cheias (Passim).
E, por outro lado: Quem ceia e logo se vai deitar, má noite há-de passar (passim). É caso para lembrar o dito latino: «Post coenam centum passus.»
Quando fica um resto de comida na mesa usa dizer-se: «Cerimónia de Alfaiate.» Em Portalegre: «Honra de Alegrete»; em Góis (distrito de Coimbra): «Honra d’Alvares.»
De uma coisa que vem muito a propósito diz-se que «caiu como sopa no mel.»
E mais algumas…
Quem tem má boca passa mal.
Quem não trabuca, não manduca.
Nem sempre galinha, nem sempre sardinha.
Quem tarde vier, comerá do que trouxer (Minho).
Quem come perdiz, a barba lho diz (Bragança).
O que faz bem a fígado, faz mal ao baço.
Duas quadras populares
Onze horas e meio-dia,
Eu aqui sem almoçar!
Qual será o coração
Que não se há-de agastar?
(Vila de Rei)
Ao almoço me dão leite,
Ao jantar leite me dão,
À merenda pão com leite,
À ceia leite com pão.
(Concelho de Sabugal)
Fonte: Etnografia Portuguesa – vol.VI, J. Leite de Vasconcelos