Cultura Tradicional – base do desenvolvimento | Opinião
Cultura Tradicional – base do desenvolvimento
Só depois de se saber o que “é uma coisa”, se pode saber “o que essa mesma coisa não é “. Isto é, quem sabe “de facto” o que é folclore, não vai chamar folclore ao que não o é.
O Folclore é o património que passa de geração em geração e nós fazemos como ouvimos e vemos fazer. E vai evoluindo naturalmente, “fixando-se” não mais evoluindo, antes que comece a ser influenciado por outros valores diferentes da sua maneira de ser e de estar.
Quanto à UNESCO, defende a continuidade do património sem fixação, que deste modo não é identitário nem tradicional. Caso da Convenção da UNESCO de 2003, que ao contrário do folclore (autêntico, tradicional, identitário), assenta sobre o constantemente transformado e a criatividade.
Perante estes factos que não têm contestação, como é que os criadores do CIOFF chamam de folclore e tradicionais aos grupos que regulamentam a exemplo da UNESCO?
Basta ver um desses grupos, para se constatar que ali nada tem a ver com o povo.
Não está em causa, diga-se, a qualidade que possam ter…
Vários conceitos de folclore?
Há quem diga que cada país tem o seu conceito de “folclore”. Se assim é, está errado…
Já em 1878 o Folclore era reconhecido internacionalmente como “saber tradicional do povo”, primeiro para se referir às tradições; costumes e superstições das classes populares, posteriormente para designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes.
Digamos, sem receio, que o conceito anteriormente indicado – saber tradicional do povo – é universal. Sendo o conceito tradicional do “seu povo” que cada país deve expressar.
Claro que será diferente!
Em 2002 foi elaborado em Santarém um conceito que eu considero de excelência, e a diferença que naturalmente há entre países, quanto a processos não pode diferir muito do nosso.
Só quem não sabe nadinha de folclore é que não verifica que esses grupos não têm nada a ver com o POVO.E um grupo de folclore deve ser, sempre, a expressão colectiva desse mesmo povo.
Apenas Folclore
O senhor Inspetor Lopes Pires foi das pessoas com quem mais aprendi nos meus inícios da actividade do folclore. E há três “princípios”, inatacáveis, que todos deviam ter como guia:
1) Em Folclore é proibido inventar;
2) Não há “folclore bom” e “folclore mau”; ou é ou não é “folclore”;
3) Não se pode comparar aquilo que não tem comparação.
A maneira como a Federação está a avaliar/classificar os grupos é algo de absurdo que é impensável fundamentar. Sendo que se forem avaliados maus bailadores, tal não é motivo para não se considerar folclore.
Parece que seria importante dar a conhecer, fora dos circuitos da Federação, a “Carta de Princípios do Folclore Português”, que para mim é uma série de equívocos. No entanto, embora eu esteja convicto daquilo que afirmo, aceito que não sou dono da verdade absoluta, e quem sabe se nalguns aspectos não estarei enganado.
É preciso partilhar, é preciso puxarmos todos para o mesmo lado, mas o que acontece é cada um está no seu canto e tem a sua verdade. Que venha o contraditório, mas devidamente fundamentado
Nota: Oportunamente desenvolverei os dois últimos temas. Entretanto enviarei três artigos – Folclore/Cultura/Tradicional, Convenção de 2003, os quais, aliás, já enviei ao Gabinete da Senhora Ministra da Cultura.
Lino Mendes