Grandes compositores de música erudita e o Folclore
Grandes compositores de música erudita e o Folclore
Diariamente, ouvimos e lemos as expressões “folclore” ou “folclórico/a” utilizada de forma depreciativa, para diminuir, apoucar ou mesmo tentar denegrir pessoas ou factos.
Quantas vezes, também, não ouvimos e lemos que a música folclórica ou tradicional “não presta”, não tem qualquer valor musical, é simples…
Pura ignorância intelectual – que devemos desculpar – de quem assim fala ou escreve, pois muitos são os grandes compositores, por todos reconhecidos, que utilizaram a música folclórica, tradicional, popular, dos respetivos países e países vizinhos para compôr as suas obras.
Para quem quiser “tirar teimas“, deixamos aqui alguns exemplos:
Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
Órfão de pai aos doze anos, passou a tocar violoncelo em teatros, cafés e bailes até se tornar compositor e regente (…). Através do estudo do violão, teve contato com os chorões do Rio de Janeiro.
Este contato com o popular marcaria toda sua vida daí em diante, desenhando uma busca pelo folclórico, que se delineou sobre a colheita de material regional em todos os cantos do Brasil, anotados em viagens que fazia desde os dezoito anos.
Essa procura incansável resultou em um acervo respeitável do cancioneiro popular – parte registado no seu “Guia Prático” para o ensino do canto de orfeão nas escolas. (…)
Utilizando assiduamente o material folclórico, absorveu dele indicações preciosas e aproximou-o do “nosso verdadeiro clima de alma, de atmosfera dentro da qual são geradas nossas determinantes expressionais”.
Mas Villa-Lobos não se restringiu ao tema popular, sendo sua obra, ao contrário, extremamente prolífica.
As suas primeiras composições traziam a influência dos estilos europeus da virada do século – como o alto romantismo francês.
Com suas Danças Características Africanas, para piano, e com os bailados Amazonas e Uirapuru começa a desmoronar-se o molde europeu. (…)
Passeando pelo folclore, Villa-Lobos deu-nos as Cirandas, no Ciclo Brasileiro, música pianística de forte influência impressionista, inspiradas diretamente em motivos folclóricos, Vamos Atrás da Serra Calunga e Teresinha de Jesus.
Mas é com o seu Guia Prático, anteriormente citado, criado a partir de harmonizações suas para músicas do cancioneiro popular, arranjadas para o ensino de canto coral, que o aproveitamento do folclore é mais direto.
É nesse ponto que se desenrola toda preocupação de Villa-Lobos com a educação, e toda sua vontade de tornar acessíveis as riquezas do folclore aos alunos de educação musical, em que ele depositava tantas esperanças. Fonte
A música tradicional portuguesa – pioneiros das recolhas (I)
Joseph Haydn (1732-1809)
Joseph Haydn é, dos grandes compositores, aquele que mais explorou a música folclórica e onde o folclore teve mesmo um papel decisivo.
Mas o seu legado mais importante foi ter lançado o fundamento permanente daquilo que hoje nós chamamos de “música clássica“.(…)
Por ter origem no folclore, Haydn é o mais típico, o mais inconfundível dos austríacos.
Ele aproveitou o folclore musical dos germânicos, dos eslavos, dos húngaros, dos italianos, porque nas ruas e Viena, na sua época, cantava-se em alemão, em tcheco, em húngaro, em italiano e até em croata e romeno.
Ele começou sua carreira como músico de rua e tocando violino em serenatas pagas (como era do costume). (…)
Haydn exprime tudo, menos a tragédia. (Segundo Nietzche por “moralismo tímido“.) E, ao contrário do que afirmaram alguns biógrafos e musicólogos mal informados, não foi uma personalidade simples.
Era um requintado, um sofisticado, um aristocrata que nunca esqueceu suas origens camponesas e populares ou o folclore da sua terra.
Católico fiel à sua Igreja, é ético, mas também é um racionalista, como maçom que era.
Galante, burguês (principalmente em matéria de dinheiro) sentimental como um romântico, suas tensões e ambiguidades resultaram na sonata-forma, a música especificamente dramática. (…) Fonte: página web atualmente desativada
A música tradicional portuguesa – pioneiros das recolhas (II)
Bela Bartók (1881-1945)
É bem provável que para quem já tenha ouvido a sua música, a primeira coisa que lhe venha a cabeça quando falamos em Bela Bartók (1881-1945) seja “música folclórica” ou “compositor nacionalista“.
Sem dúvidas ele foi uma das personalidades musicais mais importantes e influentes do século XX e a meu ver, junto com Kodaly, o compositor húngaro mais importante da história da música.
Bela Bartók nasceu em uma cidade húngara (hoje Roménia) e começou desde cedo a estudar piano com sua mãe (aos 5 anos de idade).
Durante o final do séc. XIX, e começo do XX, o crescimento acelerado das cidades acentuou cada vez mais a distância entre a população urbana e rural.
Então, logo após graduar-se na Royal Academy of Music (1901), Bartók resolveu resgatar a verdadeira música húngara, embarcando no que hoje chamamos de etnomusicologia [Estudo da música cultural (folclórica)].
Bela Bartók e Zoltán Kodály viajaram durante décadas pelo no interior da Hungria e países vizinhos, recolhendo milhares de músicas folclóricas.
Com suas pesquisas, eles mostraram ao mundo, que a conceção de “música húngara” da época, estava completamente errada (ex: Danças húngaras de Liszt).
O que os ocidentais chamavam de “música húngara” era, na verdade, a música dos ciganos húngaros (totalmente diferente da verdadeira música húngara). (…)
Como descrever o estilo de Bartók? As obras de Bartók logicamente tiveram várias fases diferentes e foram evoluindo com o tempo. Mas em geral ele consegue misturar elementos clássicos (primeiras composições), românticos (primeiras composições) contemporâneos, tudo marcado pelo folclore húngaro. (…)
A música de Bartók sempre é marcada pelo folclore húngaro, e diferentemente dos compositores românticos (que tentavam enquadrar a obra folclórica nas “regras” da música erudita da época), Bartók ignorava as “irregularidades” inatas da música folclórica e sempre compunha obras “fielmente húngaras”. (…) Fonte