Comidas de Natal | Gastronomia tradicional
Comidas de Natal!
«Há um só banquete português que desbanca todos os jantares de Paris, mas que os desbanca inteiramente: é a ceia da véspera do Natal nas nossas terras do Minho»
Ramalho Ortigão
Com a aproximação de Consoada, perfilam-se já na nossa memória os paladares do bacalhau com todos, do peru, do porco e do cabrito.
É nas províncias do Norte, particularmente no Entre-Douro-e-Minho (nas casas mais abastadas, já se vê), que a Consoada atinge os maiores fulgores de vitualhas.
Nos aparadores perfilam-se os mexidos, as rabanadas, o doce de aletria, os bolinhos de jerimu, o arroz-doce, o leite-creme, engrinaldados pelos cestinhos de vime ajoujados de nozes, pinhões, amêndoas, passas de uva, avelãs e passas de figo.
Começa-se pelo prato obrigatório, o bacalhau com todos os matadores, cabendo o funéreo epíteto às batatas farinhentas, às cebolas de escamas de cristal, às carnudas cenouras, aos tenros olhos de couve penca e aos cândidos ovos, que acolchoam os lombos de bacalhau de cura amarela (hoje quase uma saudade), tudo cozido, fumegante, e regado com finíssimo azeite (ao natural, ou fervente com seu dente de alho).
Há quem se fique por aqui, passando directamente às coisas doces; e actualmente assim será. Mas noutros tempos eram ainda de presença indispensável o bacalhau guisado, os bolinhos de bacalhau, e o polvo, de meia cura, apresentado em arroz de polvo, em filetes panados, guisado, ou assado no forno.
Após a Missa do Galo
Cumprido o preceito da Missa do Galo, e de volta a casa, continua-se na doçaria e serve-se o vinho quente, vinho verde tinto fervido com mel, canela, pinhões e gemas batidas, para a sossega.
Em alguns sítios, manda a tradição que não seja levantada a mesa da consoada, para que, noite alta, quando tudo estiver adormecido, os mortos familiares venham também fazer a sua festa, compartilhando dos mesmos prazeres dos vivos.
No dia seguinte, dia de Natal, o almoço é de roupa «roupa velha», o que sobrou do banquete bacalhoeiro dos vivos e dos mortos em grande fritura com ovos mexidos.
Ao jantar, fazem da sua entrada triunfal as carnes: de porco, de vaca, de galinha, e, como peça mestra, o peru assado.
A consoada nortenha não comporta carnes (por isso se diz «de magro») porque se efectua antes da missa da meia-noite.
A Consoada de norte a sul e nas ilhas!
A de Trás-os-Montes e Alto Douro afina pelo mesmo diapasão da do Minho, embora menos copiosa. Na Beira Alta o padrão é idêntico. As províncias do centro, bem como Lisboa, reflectem tradições nortenhas e sulinas.
A partir da Beira Baixa é nítida a mudança: consoa-se depois da missa do galo, os pratos festivos são de carne (peru, cabrito, leitão).
No Alentejo, à consoada chamam missadura e o porco é rei: lombo, febras, costeletas, linguiça. De resto, nas terras transtaganas a grande reunião familiar faz-se no jantar do próprio dia de Natal, onde, para lá da carne de porco frita, o ritual se concentra no peru recheado e assado no forno.
No Algarve igualmente domina o porco, sejam o lombo e a chouriça assados, seja a carne de porco com amêijoas. O mesmo na Madeira, onde o porco só se mata nesta ocasião, e a refeição mais característica é o almoço do dia 25, com carne-de-vinho-e-alhos acompanhada de «semilhas» novas e torradas de pão.
Ainda um pouco nos Açores com torresmos e morcela, conquanto também se mate a vaca expressamente para a função.
Guia da Semana – EXPRESSO – Edição Norte
Receitas de leite-creme
Leite-creme | Lamego
Ingredientes: 500 ml de leite, 5 colheres (sopa) de açúcar, 5 gemas; 1 colher (sopa) de farinha de trigo, 1 pau de canela; casca de 1 limão, 1 cálice de Vinho do Porto.
Preparação: Comece por ferver o leite, juntamente com a casca de limão e o pau de canela, afaste um pouco do lume e retire o limão e a canela. Adicione as gemas previamente batidas com o açúcar, a farinha e o vinho do Porto. Leve a lume brando, mexendo sempre até a mistura engrossar. Coloque em tigelas e reserve. Antes de servir polvilhe com açúcar e queime com um ferro em brasa.
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