Textos e Opiniões

O CIOFF não promove FOLCLORE | Do alto da guarita

“Saber tradicional do povo”!

Primeiro para se referir às tradições, costumes e superstições das classes populares, posteriormente para designar toda a cultura nascida principalmente nessas classes, já em 1878 o folclore era reconhecido internacionalmente como “saber tradicional do povo”.

E eram estas as diretrizes que todos os países deviam respeitar, se de folclore queriam tratar – o “saber tradicional do ” seu povo” – do que naturalmente resultariam as naturais diferenças, mas nada do que por aí aparece, e as nossas gentes entendem como “o folclore deles”

Diga-se, entretanto, que reconheço os bons espetáculos que, de uma maneira geral, esses grupos fazem. Mas “cada macaco no seu galho”, como hoje se diz, ou “os bois tratam-se pelos nomes”, como se dizia no tempo do meu avô.

E aconselho que leiam com olhos de ver os respetivos regulamentos.

Acontecendo ainda que o Folclore não é determinado por qualquer legislação ou por votos na Assembleia da República, mas pela leitura correcta dos caminhos da cultura.

Entretanto, e referente ao CIOFF, tenho na minha frente a “Definição de programas tradicionais no palco”, que começa por referir que o património cultural imaterial deve ser considerado como um processo “progressivo” do qual as principais características são actividades criativas baseadas na tradição.

Deste ponto em diante, para definir programas apresentados por conjuntos de expressão, é necessário especificar ao mesmo tempo conteúdos e estilo de expressão.

Ora bem, estarei a perceber mal – pelo menos é o que está escrito – ou os grupos de folclore como os entendemos não têm ali lugar?

Convenção da Salvaguarda do Património Cultural

Até porque, continuando, é-nos dito que “de acordo com a definição da Convenção da Salvaguarda do Intangível Património Cultural da UNESCO”, um programa será considerado como representando cultura se o seu conteúdo provém ou é inspirado pelo património cultural imaterial, nomeadamente se:

– transmitido de geração em geração;

– constantemente recriado por comunidades e grupos em resposta ao seu ambiente, sua interacção com a natureza e a sua história;

– identidade e continuidade;

– promove o respeito pela diversidade cultural e criatividade humana.

Ora, para servir a causa da cultura tradicional, os conjuntos escolhem um estilo e uma maneira de expressão.

Tipologia de programas segundo o CIOFF

Temos assim que, de acordo com a sua actividade principal, que é organização de “festivais de cultura tradicional”, o CIOFF deseja definir os estilos de expressão através da música, da música e dança como explicado abaixo:

1.- Um programa será considerado como “representando uma expressão autêntica”:

– se o conteúdo for regional,

– se os trajes são autênticos ou reconstituídos fielmente,

– ou se a música e a dança são apresentadas sem arranjo.

2.- Um produto será considerado como “representando expressando expressão elaborada”:

– se o conteúdo abrange várias regiões,

– se os elementos dos trajes são adaptado,

– ou, se a música é harmonizada e os elementos da dança modificados,

– ainda se a criação de novas danças usa elementos tradicionais e autênticos.

3.- Um programa será considerado como “representando uma expressão estilizada”:

– se o conteúdo se inspira na cultura tradicional do seu país,

– se as roupas forem recriadas para as necessidades do palco,

–  ou se a música e os elementos da dança forem adaptados e recriados para atender às necessidades de uma transposição cénica moderna,

– se a criação de novas danças e músicas usa elementos tradicionais para representar ideias criativas do coreógrafo e do músico.”;

Digam-me, como é que o folclore se pode enquadrar num “processo progressivo”, em “actividades criativas”, em “expressões elaboradas” ou “estilizadas”?

Diferenças

Digamos, entretanto, estar perante três géneros de património:

1.- O FOLCLORECultura Tradicional – que assenta no autêntico, no tradicional e no identitário;

2.- O PCI – regulado pela CONVENÇÃO da UNESCO de 2003 – o inverso: que assenta no constantemente alterado e na criatividade,

3.- O CIOFF, um Parceiro Oficial da UNESCO, acreditado pelo Comitê ICH da UNESCO – também aqui o imaterial está conforme a Convenção da UNESCO, a sua função principal é a organização de festivais, nos quais os grupos participantes podem ser “autêntico”, “elaborado” e “estilizado”.

Mas, atenção, tendo em vista a “tradição do contemporâneo”, pelo que ali o autêntico refere-se ao presente e não ao passado.

Conclusão: Apenas o Folclore é isso mesmo (Folclore) tem a ver com a nossa “identidade cultural.”

Nota final: Entenda-se este texto como a “minha opinião, “sendo bem-vindo o contraditório desde que devidamente fundamentado.

Lino Mendes