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Dossier sobre o Barro Preto de Bisalhães – Vila Real

Barro Preto de Bisalhães – Vila Real

O Estado Português reconheceu a Louça Preta de Bisalhães – Vila Real, dado o seu valor patrimonial e social e enquanto elemento identitário da região, como manifestação do Património Cultural Imaterial.

A Louça Preta de Bisalhães representa um elemento singular e ancestral da olaria nacional devendo a sua notoriedade à cor negra, que realça as suas formas e o seu cariz único.

A sua confeção, através de processos tradicionais, mantidos até à atualidade sem alterações de maior, de preparação, modelação, decoração manual, transporte e cozedura do barro, consiste numa atividade historicamente ancorada na comunidade que lhe confere a designação, com raízes que remontam, pelo menos, ao século XVI.

Procura-se, assim, com a referida candidatura, face ao acentuado declínio desta atividade secular e dado o seu caráter emblemático para a cultura popular da região, dar novo impulso a todas as ações de reabilitação e promoção deste património imaterial e eliminar o risco da sua extinção, pugnando-se também pela dignificação das condições de trabalho dos oleiros atuais e pela rentabilidade desta “arte nobre”.

A candidatura e respetivo plano de salvaguarda já receberam o apoio incondicional de inúmeras entidades, públicas e privadas, tanto ao nível nacional como local.

Barro negro – Bisalhães – Vila Real

Bisalhães, aldeia vizinha de Vila Real, foi um dos mais importantes centros oleiros do norte do país. Os alguidares, potes e panelas que ali se faziam eram levados pelas mulheres, à cabeça, em grandes cestos e vendidos distrito fora.

Ainda hoje os mais velhos contam como era duro calcorrear caminhos sinuosos, Marão acima, distâncias enormes percorridas pelos oleiros descalços, com os panelos às costas.  

É a cozedura na soenga, forno escavado no chão, que dá a cor negra ao barro. Depois de estar em brasa, a loiça é abafada com musgo e terra, adquirindo o seu aspecto final. É o homem que trabalha na roda de oleiro.

Usa pedras do rio para fazer o polimento das peças, o brunido. É também com pedras que as mulheres voltam a polir e a decorar. Saber +

“Artesanato – as marcas de um povo” – Olaria

Olaria diz-se da arte de oleiro que é relativa a “panelas”, de barro. Para o povo transmontano, a Olaria passa, não só, pela componente decorativa, como também se afirma como utilitária, exprimindo-se em formas simples e funcionais. Saber +

O jogo do panelo

Na noite do dia 28 de Junho, véspera da Festa de S. Pedro, também conhecida em Vila Real como «Feira dos Pucarinhos», é costume (apesar de estar a cair em desuso), algumas pessoas, particularmente os jovens, comprarem algumas peças de barro preto (barro de Bisalhães), em especial as peças defeituosas (que, pelo facto, eram mais baratas), e fazerem um jogo em roda, em que a peça de barro é atirada de uns para os outros, sem direcção nem altura certa, até que alguém não a conseguisse apanhar e esta se quebrasse no contacto com o chão. Saber +

Feira de S. Pedro (Feira dos Pucarinhos)

Pelo São Pedro, é de costume realizar-se em Vila Real, na província de Trás-os-Montes, uma curiosa «feira», tradicionalmente chamada «feira dos pucarinhos». 

Tal feira é uma exposição de trabalhos regionais, não só de olaria, mas também de tecidos de linho; – aparecendo ainda à venda mantas, cobertas de cama, e coisas assim. Tudo isto proveniente de incansável indústria caseira, que ali, embora rústica, se revela artística na ideação e na execução. Saber +

Pucarinhos – o que são?

«De todos os artigos de uso doméstico… fabricam também exemplares em ponto pequeno, como brinquedos de crianças, e, finalmente, umas 50 espécies de peças que não excedem 1cm de altura e que reproduzem em miniatura as peças grandes ou mesmo outras que ao espírito do oleiro ocorre fabricar como curiosidade.

A técnica da fabricação desta olaria minúscula tem certos pormenores exigidos pelas dimensões reduzidas dos objectos. Saber +

Olaria de Bisalhães – Picar o barro

«O barro, tirado da barreira, era partido e guardado numa dependência, a que chamavam “caleiro”. Quando fosse necessário, levavam-no para o pio e, deitando-lhe água, malhavam-no até o reduzir a pó.

Passavam-no pela peneira, para afastar as impurezas. Havia dois tipos de peneira, conforme os utensílios a produzir: o crivo (malha larga) para a “louça churra”; e a peneira de rede fina, destinada à confecção de louça decorativa.» Saber +

Olaria de Bisalhães – Moldar o barro

«A mesa de trabalho é formada por duas rodas e pelo banco. A de cima, grossa, tem um orifício reforçado com latão (“bucha de roda”), onde insere um eixo de madeira (“bico de trabulo”), que liga a outra, colocada por baixo.

No centro do tampo há uma elevação, com um palmo de diâmetro, onde se pousa o barro. Movimentando a roda inferior, com o pé, faz girar a que está por cima, onde coloca o barro de onde sairá a peça a elaborar.» Saber +

Olaria de Bisalhães – Gogar

«Terminado o artefacto, usa uma palheta para aperfeiçoar os rebordos e um “gogo” (pedra do rio) para a polir. Os desenhos são aprimorados com um pedaço de pau, afiado, desenhando os motivos decorativos.» Saber +

Olaria de Bisalhães – Colocar as peças no forno

«Depois de seca, a louça é metida no forno (buraco na terra que leva cerca de mil peças grandes, ou seis mil pequenas, de cada vez), pousada numa grelha sobre lenha a arder.

O buraco é coberto com musgo, caruma e terra, fazendo uma abertura para facilitar a circulação do ar.» Saber +

Olaria de Bisalhães – Cozer a louça

«Tapado o forno, a temperatura atingia novecentos graus. Há fornos feitos com tijolo, medindo metro e meio de profundidade, por três de diâmetro. Aplicavam um pião (cilindro), para facilitar a difusão das chamas pelas peças, e “roncas” (panelas estragadas), evitando que quebrassem, adquirindo um tom avermelhado se não fosse abafada.» Saber +

Olaria de Bisalhães – Retirar a louça do forno

«O fumo provocado pela combustão, dá a cor característica do barro da região.» Saber +

Olaria de Bisalhães – Esconder, na liga, os pucarinhos do peito

«A par dos utensílios de barro preto, usados nas lides domésticas, havia minúsculas peças ornadas com um lacinho na asa ou no gargalo. Os namorados procurando agradar ao ente querido, ofereciam-lhas, trazendo-as ao peito enquanto durassem os festejos. Daria mais sorte se fossem roubadas.» Saber +

Olaria de Bisalhães – Expôr a louça

«Até à construção do IP4, um pouco antes de chegar a Vila Real, havia tendas de louça preta a ladear a estrada. O viajante, atraído pela cor das peças, parava e o negócio lá se ia desenvolvendo.

Com a a abertura da via rápida, as tendas foram transferidas para pequenos pavilhões, à entrada da cidade.

Nalguns, pode-se admirar o trabalho do oleiro, na azáfama de elaborar as belas peças que exibe penduradas por dentro e por fora da loja.» Saber +