Aguadeiros e Aguadeiras | Profissões antigas
Aguadeiros e aguadeiras
Os aguadeiros em Lisboa
Ainda neste século [século XX], antes da vulgarização da água canalizada, o fornecimento doméstico era feito, em Lisboa, por galegos, quase exclusivamente, que continuavam uma tradição de há séculos relacionada com a gente do seu país e representavam os antigos escravos negros e mulatos, e até os ratinhos [ver imagem abaixo].
Diz Afonso Álvares (Descrição de Lisboa, de 1625 ou 1626) acerca do Chafariz de El-Rei:
Onde tantos aguadeiros,
tantos negros, tantas negras,
galegos, cabras, ratinhos
a quarta de água sustenta.
A frequência era tão grande (recorda Júlio de Castilho) que separavam, também para evitar conflitos, os tipos de aguadeiros por bicas: negros para uma, galegos para outra, etc.
Os galegos transportavam a água em barris e levavam-nos às casas, despejando-os diretamente nos potes de barro colocados nos poiais das cozinhas.
As donas de casa que queriam água colocavam um pano branco à janela, e isto evitava que elas perdessem tempo à janela a esperá-los ou se esfalfassem a gritar por eles: o galego passava, ia olhando e, ao ver o pano, subia. 1
Aguadeiras em Vila Real
Os primeiros dados do abastecimento de água organizado a Vila Real remontam ao ano de 1905.
O sistema então utilizado era composto por diversos fontenários espalhados pela cidade, com origens próprias, sendo os principais e mais importantes os situados junto à Sé Catedral [ver imagem abaixo], hoje de volta ao local inicial, depois de ter estado no Largo de Camões , o da Carreira Baixa frente ao [antigo Restaurante] Espadeiro e o de São Pedro, junto às atuais escadas.
A distribuição de água à população mais abastada era assegurada diariamente por aguadeiras que levavam aos clientes cântaros de um almude (30 litros) cobrando 120 Reis por mês. Se fossem dois cântaros diários a despesa era de 200 Reis.
Os consumos então previstos, por pessoa e por dia, eram de 7,5 litros, situação que se manteve até ao início dos anos 30.
Nos últimos anos e devido à escassez de água, a mesma era recolhida à noite no período de estio, dando origem a grandes bichas, discussões e mesmo disputas físicas normalmente só resolvidas pela polícia.

Em Vila Real, nos finais da década de 30, foi fundado um Grupo Folclórico denominado “Aguadeiras Transmontanas“.
1 Texto e imagem retirados de “Etnografia Portuguesa” – Livro III – José Leite de Vasconcelos | Foto de destaque: “Varinas e aguadeiros galegos no chafariz da Esperança, nos começos do século XX”. (Arquivo Fotográfico da C.M.L.)