A truta de Celorico da Beira | Lendas de Portugal
A truta de Celorico da Beira
Celorico da Beira
deve ser uma povoação muito antiga, e é crível que o velho castelo reedificado por D. Dinis, tenha sido construído sobre uma localidade luso-romana situada naquela eminência.
Com Trancoso e Guarda, Celorico constitui um triângulo militar de grande poder defensivo, como foi reconhecido por Wellington, Massena e outros.
Em torno do castelo decorreram vários episódios emocionantes da história peninsular, desde os tempos da reconquista cristã até às invasões francesas.
A sua importância militar pode depreender-se do foral e privilégios que Afonso Henriques lhe outorgou desde cedo e vários outros reis, ao longo do tempo, foram confirmando e ampliando.
Episódio histórico
Um desses episódios ficou estreitamente ligado à história mais comum da vila visto fazer parte do seu brasão de armas.
Passou-se a história em 1245, quando D. Afonso III corria o reino a exigir vassalagem dos súbditos de seu irmão D. Sancho II, o Rei de Portugal que o Papa depusera e que se encontrava em Toledo banido e refugiado.
O novo Rei viera pôr cerco ao castelo cujo alcaide, Fernão Rodrigues Pacheco, mantinha fidelidade absoluta ao preito e menagem que jurara a D. Sancho.
Dentro das muralhas, a fome apertava duramente, ao mesmo tempo que se assanhava a resistência do alcaide.
Subitamente uma águia cortou os ares e deixou cair intramuros a presa que trazia nas garras: uma enorme truta fresca, que provavelmente apanhara no Mondego.
Ideia salvadora
Uma ideia surgiu imediatamente no espírito do alcaide de Celorico: mandar aquele peixe cozinhado a D. Afonso para que visse como a vila estava bem guarnecida de víveres.
Assim, mandou que arranjassem um pouco de farinha – género que escasseava na fortaleza – e que guisassem a truta.
Chamou Gomes Viegas e ao entregar-lhe o pitéu que devia levar ao inimigo, juntou-lhe uma mensagem em que dizia:
“Não culpeis a minha resistência para sustentar a voz de el-rei D. Sancho, vosso Irmão, que mercês recebidas, obrigações e homenagens me desculpam.
Eu tenho determinado perseverar na defensão até expresso mandado seu; querendo insistir, podeis fazê-lo, pois a vila está guarnecida de bons cavaleiros, que tendes experimentado, e provida de mantimentos como assegura este regalo: estimarei o aceiteis, atendendo ao pouco que pode oferecer-vos um cercado.”
D. Afonso recebeu o presente que o alcaide lhe enviava por Gomes Viegas, ao qual pôs a alcunha de o Peixão, e decidiu levantar o cerco por considerar não valer a pena, na verdade, perder mais tempo com uma praça tão bem guarnecida de tudo e pronta a aguentar-se por tempo indeterminado.
Quanto a Gomes Viegas, o Peixão, ficou tão orgulhoso do epíteto que, aceitando-o, o modificou para Peixoto.