Usos, costumes e tradições

A Festa das Maias no Alto Douro | Tradições

A Festa das Maias

1 de Maio

, as pessoas enramalhavam com ramos de giesta portas, janelas, campos e carros de bois. Havia até indivíduos que enfeitavam com eles a lapela do casaco. Eram as maias.

Uns diziam que era por causa dos feitiços e do mau-olhado, outros, que por causa do catarro (bicho) (Godim / Peso da Régua), outros, que «para não dar a fome» (Carlão / Sabrosa), outros, que para que o Diabo não entrasse em casa, outros, enfim, que era para recordar um facto da infância de Jesus, que passo a narrar.

Indo em perseguição de Maria, José e Jesus, os soldados de Herodes verificaram que a Sagrada Família se escondera numa certa casa, pelo que decidiram marcar a porta da mesma com uma giesta florida.

Qual não foi o seu espanto, quando, ao regressarem no dia seguinte, acharam todas as casas enramalhadas! (Escávedas / Peso da Régua).

Já no dia um, as raparigas escolhiam um rapazito, o Maio-moço, e revestiam-no da cabeça aos pés de maias. Seguidamente, passeavam-no pela povoação, cantando, dando vivas e dançando em volta dele e coroando-o.

Em Alvações do Corgo, os pequenos cantores diziam:

Vedes o Maio,
Maio, mocinhas!
Vamos à caixa
Das castanhinhas.

Ele lá vai,
Ele lá vem!
Pelas hortas abaixo
De Santarém.

E em Vila Real…

Em Vila Real a letra era outra.

1.- Este maio-moço
E um troca-burras:
Vendeu umas meias
Trouxe-me umas luvas.

Estribilho:

Ele lá vai, ele lá vem
Pelas hortas de Santarém:
Vivò, vivò, vivò,
Passe muito bem.

2.- Este maio-moço
Chama-se João:
Anda na campanha
Lindo capitão.

3.- Este maio-moço
Chama-se Francisco:
Anda na campanha
A varrer o cisco.

4.- Este maio é de lírios
E o vosso é de assobios.

5.- Este maio é de rosas
E o vosso é de cordas.

Em Barqueiros (Mesão Frio), a canção do cortejo dizia:

Era o Maio Moço,
Era boticairo,
Vendeu a botica
P’ra comprar um saio
O saio rompeu-se,
Botica perdida!
Vai pela rua abaixo
Vai pela rua arriba
Ora, viva, viva, viva!

Era Maio Moço
Era tecelão
Vendeu a botica
Ao mata carvão.
O carvão gastou-se,
Vai pela rua abaixo
Vai pela rua arriba
Ora, viva, viva, viva!

Era também costume alto-duriense comer castanhas piladas no dia 1 de Maio. Razões avançadas: para que o Burro (as forças maléficas da Primavera? O Mafarrico?) não saltasse às pessoas (Vila Real), ou não lhes mordesse.

Em Jou (Murça), o próprio termo passou a designar as castanhas, e não as flores de giesta, cujo uso de recolha entretanto se perdera.

Em Vila Real, os pastores passeavam garbosamente pelo povoado, no dia primeiro de Maio, os seus melhores carneiros.

Pensa-se que a festa das Maias se radica nas Florales romanas, celebradas entre 28 de Abril e 4 de Maio, em honra de Flora, deusa da florescência, e de Maia, deusa da fecundidade.

Fonte: A. L. Pinto, “Alto Douro, terra de vinho e de Gente” (texto editado e adaptado) | Imagem