A Feira de São Marcos (Évora Monte) em 1919
A Feira de São Marcos
“A dois quilómetros de Évora-Monte, fica a capelinha de São Marcos que é uma das mais devotas e pitorescas do Alentejo.
Évora-Monte, como se sabe, é a antiga vila que se ergue sobre um escarpado monte, perto da estrada de Extremoz a Évora, com suas muralhas e castelo da época dionisiana, tendo suas origens árabes.
A São Marcos afluem todos os anos, a 25 de abril, os de Évora-Monte e de outras vilas para festejarem, num misto religioso e pagão, o santo evangelista.
Em volta da capela armam-se barracas, os festeiros satisfazem a fé religiosa e ao mesmo tempo as exigências de estômago e ninguém ignora como os alentejanos gostam de boa e suculenta cozinha.
As merendas à sombra das carvalheiras improvisam-se, juntam-se famílias, organizam-se bailaricos, enchem-se os ares com descantes característicos, reúnem-se as mais lindas caras dos arredores, acotovelam-se os camponeses com a gente ajanotada das vilas e a alegria reina durante um dia inteiro naquele sítio encantador digno de ser visitado pelos nossos artistas e reproduzido nas telas.
Alberto Sousa, o pintor insigne do Alentejo, talvez já tenha fixado os interessantes aspectos do arraial de S. Marcos; se o não fez, decerto o fará, juntando à sua admirável galeria de quadros que são a história e a vida de uma das mais curiosas e ricas províncias de Portugal novos trechos de pintura para o que lhe abundarão os temas cheios de movimento e de cor.
A nossa terra é um país de arraiais, procissões e romarias. Pensar em pôr-lhes termo seria rematada loucura. O povo precisa, precisou sempre, dessas distrações, desses desafogos, d’essas válvulas.
Desde tempos imemoriais que assim foi.
De norte ao sul do país, às festividades a santos e santas, à Virgem sob as mais diversas invocações, aos doutores, aos mártires, aos confessores, aos apóstolos e evangelistas, a todas as potestades do céu, servem de pretexto ou para melhor dizer são um motivo, um importante factor, do tráfico comercial e industrial e um dos meios mais correntes e mais fecundos para o contacto das populações e para o estreitamento das relações que os prendem…”





In “Ilustração Portuguesa”, nº691 – 1919 (texto editado e adaptado) | (Clichés dos distintos colaboradores artísticos da Ilustração Portuguesa, srs. Maia Mendes Lopes e Braz Simões de Sousa)