As refeições no tempo dos nossos avós – Portugal

As refeições no tempo dos nossos avós – Minho

Concelho de Melgaço

Parva – Refeição que se toma ao sair para o trabalho. Consta de pão de milho e uma porção de aguardente.

Almoço – Às 9 horas; pão, vinho, às vezes sardinhas, bacalhau.

Merenda – Ao meio da tarde; pão, vinho.

Ceia – Caldo

Castro Laboreiro

De manhã – Água de untos com pão de centeio.

Ao meio-dia – Caldo de carne de porco ou com graxa, com feijão seco, batata e legumes; prato bom de batatas cozidas, temperadas com azeite, pimenta e colorau e um naco de carne.

Às 4 horas, merenda – Tigela de leite com sopas de centeio ou tigela de sopas de vinho.

Ceia – Papas de água, lei e farinha milha, pouco grossa, e, às vezes, com miolo de pão de centeio; outro prato de batatas cozidas com carne de porco.

As refeições no tempo dos nossos avós – Beiras

Refeições de trabalhadores na Beira Baixa e parte da Beira Alta, no Verão:

Almoço, às 7 horas.

Fatia, às 10 horas.

Jantar, às 12 horas.

Merenda, às 16,30 horas.

Ceia, às 20 horas.

Gozam de trato privilegiado os trabalhadores da malha do pão e do linho, os alfaiates e os que fazem o vinho nos lagares. Estes últimos têm mais uma refeição às 23 horas, se trabalharem de noite.

Meda, distrito da Guarda

Desjejum, ao levantar – Pão ou qualquer outra comida leve, às vezes pingoça de vinho ou de aguardente.

Almoço

Fatia – Várias comidas às vezes de garfo, com azeitonas e queijo. Não se toma caldo.

Jantar, ao meio-dia.

Merenda, pelas 15 – 16 horas – como a fatia.

Ceia.

Na pisa das uvas, no lagar, os homens tomam no fim, aí pela meia-noite, leve refeição regada com vinho, carne, batatas, arroz, chamada ceote.

Oliveira de Azeméis

O primeiro almoço chama-se aqui quebra-jum.

Albergaria-a-Velha

O trabalho é, hoje, pago a seco. Antes serviam-se as seguintes refeições aos trabalhadores:

Parva, cedo – Broa e vinho.

Almoço, pelas 8 horas – Sardinhas ou bacalhau com toucinho, couve ou feijão com batatas. Vinho, se o havia.

Jantar, ao meio-dia – Caldo, carne ou bacalhau ou sardinhas, batatas, hortaliça. Vinho, se o havia.

Merenda, às 17 horas – Azeitonas, pão e vinho.

Ceia – Caldo, sardinhas, pão e vinho ou bacalhau.

Consoa – A ceia do dia de jejum e a do Natal. Mais avantajada que as outras.

Vila de Almeida

Os trabalhadores do campo tomam entre o almoço, que é pelas 7,30 horas, e o jantar, que é ao meio-dia, uma refeição leve chamada ingorra, que consta, por exemplo, de queijo ou azeitonas ou carne com pão.

Rapa, concelho de Celorico da Beira

Petica, petiquita e também parva e mastiga, de manhã – Pão e azeitonas ou queijo com vinho ou aguardente.

Almoço, às 8 horas – Caldo, batatas e azeitonas, sem vinho. Nas ceifas é mais abundante.

Em certos serviços, como no do linho e das ceifas, comem às 10 horas.

Jantar, pelo meio-dia – Caldo, feijão, batatas e conduto (carne, bacalhau, sardinhas). O conduto por excelência é a carne e o enchido. Vinho. Isto, o habitual; o tipo de jantar varia um pouco com os serviço.

Merenda, às 16 horas, nas ceifas e malhas – Uma almofia (bacia grande) de feijão, temperado com azeite e vinagre, e outra de alface, bacalhau frito ou carne, papas de milho, às vezes com mel e açúcar. Vinho.

For disso e refeição é constituída pão e azeitonas ou pão e queijo, sem vinho.

Ceia, ao anoitecer: nas ceifas – Batatas com azeite e vinagre e papas de milho. Fora disso, caldo e batatas e azeitonas, sem vinho, como no almoço.

Comida – É o termo geral empregado.

Há comidas especiais, como, por exemplo, as fritas dos baptizados, em que são indispensáveis o arroz-doce e os coscoréis.

A refeição nocturna de quem jejua é a consoada, mas consoada é também a ceia do Natal.

Alforge – É o alforge com a comida, «leva bom alforge», «comida de alforge»; mas não se diz «comer o alforge».

Estar em jejum ou com fome diz-se «estar em reque». Expressões sinónimas desta: «Estar a tocar harpa», «Estar com as tripas aos estoiros», «Estar com a barriga a dar horas», «Estar-se-lhe a fazer o luar pardo».

Vilar Seco, concelho de Nelas

Chamam rolões aos milhos de Mondim; a mó cimeira alteia-se um pouco para o grão sair mal moído.

Canas de Senhorim, concelho de Nelas

Às mulheres que sacham o milho dão grandes merendas e grande primeiro almoço: de rolões com açúcar ou com mel.

Mizarela, concelho da Guarda

Piqueta – É uma das comidas no trabalho do linho. Uma cantiga:

                    Maça, maça, minha maça,

                    Maça, maça o linho bem.

                    Não olheis para a portela

                    Que a piqueta já lá vem.

Carregal do Sal

Mata-bicho, ao levantar – Aguardente ou café.

Desjuamento, ao nascer do Sol – Sardinhas ou queijo ou carne.

Petica, às 9 horas – Pão, vinho ou sardinhas ou azeitonas.

Almoço, às 10h – Caldo, feijão, arroz.

Jantar, ao meio-dia – Caldo, arroz com bacalhau.

Merenda, às 17 horas – Sardinhas, bacalhau, azeitonas.

Ceia, às 8 ou 9 horas, no Verão, e às 8 horas, no Inverno .

Na Quaresma, quando se jejua:

Parva – Um pouco de pão, em vez do almoço.

Jantar

Ceia

Lajeosa, concelho do Sabugal

Fatiga ou fatia, às 7 horas – Pão e azeitonas ou queijo.

Segundo almoço, das 8 para as 9 horas – Migas, batatas, azeitonas e sardinhas.

Jantar, ao meio-dia.

Petica, pelas 14 horas – frutas e pão.

Merenda, pelas 17 – 18 horas – Bacalhau frito, papas de leite, azeitonas, salada.

Ceia, ao escurecer – Caldo, batatas, azeitonas, papas. Sem vinho.

As refeições no tempo dos nossos avós – Estremadura

Lisboa (o que se come e onde):

«Foram célebres os bifes do Marrare e do Jansen, as iscas à cortadora, por 80 réis. Lisboa, e as iscas com ou sem elas, a 20 e 30 réis. Lisboa hoje, petisca, toma leite…chá e come bolos. Antigamente comia nos restaurantes manhosos e nas tascas, mas comia. Hoje alimenta-se… nas leitarias. De maneira que os finos vão à Garret, ao Tavares, à Marques ou comem bem ou comem bolos…Os médios, a quem apraz comida suculenta, vão ao Estrela de Ouro, aos Irmãos Unidos, ao Leão de Ouro, aos restaurantes da Rua de S. Julião ou ao Martinho da Arcada… Há os que preferem a Travessa da Palha e o Arco do Bandeira… onde por menos não são pior servidos.

Lá existe o João do Grão… e o Cesteiro, onde o vinho verde, no Verão, é coisa de ressuscitar um morto. Depois os restaurantes-tabernas em volta da Praça da Figueira, com a bela sardinha a saltar…

Há as tendinhas-barracas, em volta do Mercado de 24 de Julho…

Há ainda os clubes chiques e as tascas, onde se alimentam actores e noctívagos…, as cozinhas económicas e a sopa dos pobres, à porta dos quartéis…

Lisboa come também nas hortas, em Algés, em Benfica, no Lumiar. Come o que leva de casa e o que encontra no caminho. Come bacalhau e queijo Roquefort, come presunto Anglo e presunto de Lamego, come foie-gras e alheiras de Bragança… Come-se [goraz] assado, cozido, frito, de salmoura, de escabeche, com molho ou sem molho, em gigot, sur canapé, nu ou vestido, grelhado ou no espeto, refogado ou em recheio, no forno ou nas brasas, estufado ou em sangue, com trufas ou com pickles, de cebolada ou de caril, de empadão ou de fritangada.»1

Diário de Notícias, de 29-III-925

As refeições no tempo dos nossos avós – Alentejo

Tolosa, concelho de Nisa:

A alimentação do povo consta do seguinte:

a) Cozinha;

b) Conduto;

c) Pão.

Chamam cozinha à comida que se come quente, geralmente em pratos: feijão com couve, carne, peixe, arroz, batatas.

Conduto é o que se come avulso com pão: chouriço assado e comido com pão é conduto, toucinho assado e avulso com pão é conduto, como o é cebola com pão, mas cozinhada com batatas será cozinha, como cozinha são, por exemplo, sardinhas com batatas servidas no prato.

Beja:

Almoço, 9 horas.

Jantar, meio-dia.

Merenda, 17 horas.

Ceia, ao anoitecer.

Odemira:

Refeições no campo:

Almoço, pelas 7 horas, no Verão, e 8, no Inverno – Papas de milho, podendo levar leite ou toucinho. E também açorda, que pode levar batatas. Ainda por 1920 se comiam no campo centeio e milho, hoje já quase só come trigo.

Jantar – Cozido de feijão seco ou verde, grão-de-bico, chícharos, fava verde, ervilhas, couve, repolho, quase sempre com toucinho ou então carne. À sexta-feira, tempero de azeite em sopa de pão e trigo.

No Verão come-se melancia.

Merenda – Pão com azeitonas, mel ou queijo. Dá-se de Abril em diante.

Ceia – quase sempre igual ao almoço. Raramente vinho; bebem-no, depois, nas tabernas, por atacado.

As refeições no tempo dos nossos avós – Algarve

Mexilhoeira Grande, concelho de Portimão:

Jantar, ao meio-dia. Se dá meio-dia antes de se jantar, diz-se:

               Meio-dia!

               Panela cheia, barriga vazia.

Se houve o meio-dia depois do jantar:

               Meio-dia!

               Barriga cheia, panela vazia.

Fonte: J.Leite de Vasconcelos – Etnografia Portuguesa – Vol. VI – p.397 e seg. | Imagem de destaque retirada da obra “O Douro” de Manuel Monteiro